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Publicada em 21 de Novembro de 2025 às 14:00

Consciência Negra 2025: Lanceiros Negros, o príncipe Custódio e a memória que o RS precisa assumir

Jorge Amaro de Souza Borges, quilombola dos Teixeiras - Mostardas e doutor em Políticas Públicas e Pós-Doutor em Desenvolvimento Rural (Ufrgs)

Jorge Amaro de Souza Borges, quilombola dos Teixeiras - Mostardas e doutor em Políticas Públicas e Pós-Doutor em Desenvolvimento Rural (Ufrgs)

Divulgação/JC
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Jorge Amaro de Souza Borges
Jorge Amaro de Souza Borges
O Dia da Consciência Negra de 2025 reforça a urgência de revisitar histórias que moldaram o Rio Grande do Sul, mas que por muito tempo foram silenciadas. Entre elas, duas se destacam: a dos Lanceiros Negros, traídos e massacrados no episódio de Porongos durante a Revolução Farroupilha, e a de Custódio Joaquim de Almeida, o chamado príncipe negro que viveu e prosperou em Porto Alegre no século XIX e que agora inspira o enredo da Portela para o Carnaval de 2026.
Os Lanceiros Negros representam um dos episódios mais dolorosos da nossa história. Homens negros, em grande parte escravizados, lutaram acreditando na promessa de liberdade, mas foram entregues à morte. Porongos evidencia o racismo estrutural que atravessa a formação do Estado e mostra como identidades negras foram descartadas quando já não interessavam aos projetos políticos da elite branca.

A história do príncipe Custódio, por outro lado, revela a potência da presença negra no Sul. Originário da África Ocidental, ele tornou-se liderança religiosa, referência comunitária e criador de cavalos em Porto Alegre, vivendo na Rua Lopo Gonçalves e contribuindo para a formação do Batuque no RS. Sua escolha como enredo da Portela rompe com o mito de um Rio Grande exclusivamente europeu, reafirmando que nossa identidade também é negra, diversa e plural.
Relembrar Lanceiros e Custódio não é apenas revisitar o passado: é reconhecer que o futuro do Estado depende de colocar a equidade racial no centro das políticas públicas. Educação antirracista, fortalecimento dos quilombos, proteção das religiosidades de matriz africana e inclusão real devem ser compromissos permanentes.

A Consciência Negra nos lembra que memória e justiça caminham juntas. O Rio Grande só será inteiro quando reconhecer plenamente sua trajetória — inclusive aquela que por muito tempo tentou ocultar. Como escreveu Oliveira Silveira, “encontrei minhas origens, em minha gente escura, em meus heróis altivos; encontrei-as enfim, me encontrei”. Que este espírito inspire um novo pacto civilizatório, capaz de reconciliar o povo gaúcho com todas as suas cores, vozes e pertencimentos.
Quilombola dos Teixeiras - Mostardas
Doutor em Políticas Públicas e Pós-Doutor em Desenvolvimento Rural (Ufrgs)

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