Saulo Farto Chaves
O assassinato de Brian Thompson, CEO da UnitedHealthcare, ocorrido em dezembro do ano passado em Nova Iorque, uma das cidades mais vigiadas do mundo, deixou um alerta importante sobre o novo cenário de ameaças à segurança de líderes empresariais. O caso não pode ser visto apenas como um episódio isolado. Representa um marco simbólico de transformação, deixando claro que a figura do executivo deixou de estar protegida por fronteiras geográficas, sociais ou institucionais.
Em 2025, a tentativa de ataque a Elon Musk durante um evento em Austin, no Texas, reacendeu o debate sobre a vulnerabilidade de grandes líderes empresariais e o impacto que esses incidentes podem ter sobre a estabilidade de mercados e companhias globais. O episódio reforçou que a segurança de executivos não é mais uma questão restrita a contextos políticos ou governamentais, tornou-se uma pauta central do mundo corporativo.
Estamos diante de uma nova era em que C-levels se tornaram alvos potenciais. A hiperexposição nas redes, a previsibilidade de rotinas e a crescente polarização sociopolítica colocam esses profissionais em risco, mesmo em contextos antes considerados seguros. Empresas como Tesla e Amazon já adotam posturas preventivas, investindo fortemente na proteção de seus executivos, e estão certas em fazê-lo.
A realização da COP30, marcada para acontecer em Belém (PA), entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025, eleva essa discussão a um novo patamar estratégico. Nomes como António Guterres, Emmanuel Macron, Greta Thunberg e Bill Gates estão entre os cotados a participar, consolidando a COP30 como um dos eventos geopolíticos e midiáticos mais relevantes já realizados no país. Com proporções globais, o evento reunirá uma concentração inédita de líderes políticos, empresariais e representantes de organizações internacionais, colocando o Brasil sob os holofotes do cenário mundial.
De acordo com a Secretaria Extraordinária para a COP30 (Secop), mais de 190 países já têm hospedagem garantida em Belém. Outros 49 países ainda negociam suas acomodações, o que demonstra o ritmo acelerado de preparação para a conferência. A cidade deve receber milhares de participantes, com 53 mil leitos disponíveis, distribuídos entre hotéis, navios, residências de temporada e Airbnb. Motéis e escolas foram reformados e adaptados para acolher parte dos visitantes, enquanto a Justiça precisou intervir para conter preços abusivos nas hospedagens.
Esses números reforçam o tamanho do desafio logístico e de segurança que se aproxima. Com líderes de mais de uma centena de países reunidos em um mesmo local, a COP30 exigirá das autoridades brasileiras e das empresas privadas envolvidas um nível de preparo e coordenação sem precedentes. A proteção executiva, nesse contexto, passa a ser um pilar estratégico para garantir a integridade dos participantes e o êxito do evento. Não se trata de uma ação reativa, mas de uma estrutura integrada, silenciosa e altamente especializada.
A segurança moderna exige análise cuidadosa de rotinas e deslocamentos, mapeamento de ameaças internas e externas, avaliação de riscos específicos ao perfil e à função de cada executivo, além de um planejamento detalhado de rotas e protocolos de emergência. Também envolve orientação à família e à equipe próxima, e integração com os sistemas de segurança patrimonial e inteligência corporativa da empresa.
Aplicar essas práticas em um evento da escala da COP30 exige ainda mais critério e sofisticação. A visibilidade midiática, o número de personalidades envolvidas e as variáveis imprevisíveis impõem um novo padrão de excelência em segurança privada e institucional.
Investir na proteção de lideranças é uma decisão estratégica. A ausência inesperada de um líder-chave pode desencadear consequências devastadoras em diversas dimensões, operacionais, financeiras e reputacionais. Em tempos incertos, garantir a presença ativa e segura de quem toma decisões críticas é uma vantagem competitiva.
Diante de um mundo cada vez mais imprevisível, a proteção executiva exige inteligência, metodologia e atuação técnica de excelência. Algumas empresas no mercado têm atuado fortemente na construção de estratégias personalizadas de segurança, com foco na prevenção e eficiência, especialmente relevantes para eventos de grande magnitude, como a COP30, onde a expertise em segurança integrada e antecipativa faz toda a diferença.
O caso Brian Thompson e o recente episódio envolvendo o Elon Musk são evidências concretas de uma nova era, que exige abordagens sofisticadas para proteção de lideranças. Em um cenário em que as ameaças se tornaram multifacetadas e cada vez mais imprevisíveis, a proteção executiva se consolida como elemento fundamental de responsabilidade corporativa e gestão estratégica de riscos.
As organizações que compreenderem essa nova realidade e implementarem planos avançados de proteção, estarão não apenas prevenindo incidentes, mas também preservando um dos seus ativos mais valiosos: a continuidade da liderança estratégica.
Diretor de negócios na ICTS Security, formado em Administração de Empresas com MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV)