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Publicada em 30 de Setembro de 2025 às 18:08

Recuperar a autoestima é parte da cura

Camile Stumpf, médica mastologista do Hospital Moinhos de Vento

Camile Stumpf, médica mastologista do Hospital Moinhos de Vento

Divulgação/JC
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Camile Stumpf
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O Outubro Rosa tem um poder simbólico indispensável quando falamos em câncer de mama: nos lembra da urgência da prevenção, do diagnóstico precoce, da solidariedade. Mas também deve nos recordar que, para muitas mulheres, vencer o câncer de mama não se resume apenas a eliminar o tumor — é também reconstruir a identidade, o corpo, a autoestima. Vale lembrar que o câncer de mama (excluindo o de pele, não melanoma) é o mais comum entre as mulheres no Brasil, representando cerca de um em cada três casos de câncer feminino diagnosticados, com 74 mil novos casos por ano até 2025, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca).
Para muitas dessas mulheres, além do impacto do diagnóstico e do tratamento, existe o desafio emocional e físico da cirurgia mamária, que pode afetar profundamente a percepção de si mesmas. A boa notícia é que a medicina avançou muito. Hoje, a reconstrução mamária pode ser feita de forma imediata, no mesmo ato da retirada do tumor, na imensa maioria das vezes. Utilizamos técnicas modernas da cirurgia plástica, como retalhos autólogos (com tecidos da própria paciente), implantes ou mesmo combinações das duas abordagens, sempre com o objetivo de devolver volume, forma e simetria à mama.
A oncoplastia, por sua vez, permite conservar parte da mama e remodelá-la com precisão estética, respeitando critérios oncológicos de segurança. Reconstruir a mama não é vaidade. É parte do tratamento. Trata-se de oferecer à mulher a possibilidade de resgatar sua imagem corporal, sua feminilidade e sua autoestima, que são fundamentais para a saúde mental e para o enfrentamento da doença. Embora garantida por lei no Brasil, a reconstrução ainda não é uma realidade para todas as pacientes, especialmente na rede pública, onde faltam recursos e profissionais especializados.
Precisamos ampliar o acesso, desmistificar o tema e garantir que toda mulher tenha direito não apenas à cura, mas à dignidade no processo de recuperação. O câncer de mama deixa marcas, mas a reconstrução é a chance concreta de suavizá-las, física e emocionalmente. Em um mês de conscientização, é essencial lembrar que reconstruir o corpo é também uma forma de reconstruir a vida.
Médica mastologista do Hospital Moinhos de Vento
 

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