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Publicada em 01 de Setembro de 2025 às 18:00

Tarifaço e a rastreabilidade bovina

Deniz Anziliero, Diretor da Escola do Agronegócio da Atitus Educação

Deniz Anziliero, Diretor da Escola do Agronegócio da Atitus Educação

Divulgação/JC
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Deniz Anziliero
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O agronegócio gaúcho enfrenta um choque geopolítico: o tarifaço do governo americano sobre produtos agropecuários, com efeitos diretos sobre a carne bovina brasileira. Essa medida joga luz sobre a vulnerabilidade da pecuária diante de barreiras comerciais e mostra a urgência de ações de blindagem competitiva – sendo a rastreabilidade individual a mais imediata delas.
Mais que um detalhe burocrático, a rastreabilidade bovina é um verdadeiro seguro de vida comercial. O Plano Nacional de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos (PNIB) prevê obrigatoriedade apenas em 2032, mas os prazos não dialogam com a velocidade dos choques externos.
A experiência recente das cadeias de aves e suínos é clara. Com rastreabilidade estruturada, as exportações diante da ameaça da influenza aviária foram redirecionadas, preservando mercados e valor agregado. Já a pecuária bovina, apoiada apenas na GTA - sistema por lotes, vulnerável a erros -, segue incapaz de reagir com a mesma agilidade.
No Rio Grande do Sul, a urgência é ainda maior: abate pulverizado, entrada de carne de outros estados e produção insuficiente para o consumo interno fragilizam a competitividade. A adoção da rastreabilidade individual traria ganhos em sanidade, transparência e acesso a mercados premium, transformando uma fraqueza estrutural em vantagem estratégica.
Existem desafios, como custos dos dispositivos eletrônicos, necessidade de capacitação técnica e risco de formação de mercados paralelos. Ainda assim, experiências comprovam a viabilidade. Santa Catarina rastreia, há mais de 16 anos, 4,6 milhões de animais, e o Pará prevê cobrir todo o rebanho até 2026. Ambos demonstram que o cronograma nacional pode e deve ser acelerado.
O tarifaço de Trump, portanto, não deve ser visto apenas como obstáculo, mas como oportunidade de reposicionamento competitivo, antecipando a implementação plena da rastreabilidade no RS até 2030, aproveitando o momento de visibilidade que a Expointer oferece para alinhar produtores, indústria e poder público.
Em um mundo de barreiras comerciais e sanitárias imprevisíveis, a rastreabilidade é mais que uma exigência, é acesso a mercados rigorosos, prova de conformidade ambiental e assegura confiança dos consumidores globais. O campo gaúcho deve ler os sinais e não esperar até 2032 para se movimentar. A hora de agir é agora.
Diretor da Escola do Agronegócio da Atitus Educação

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