Raul Kazanowski
Estive na audiência pública final de discussão do Plano Diretor de Porto Alegre, no auditório Araújo Vianna, no dia 9 de agosto, e foi uma das experiências mais interessantes de que já participei. Entre tantos argumentos e manifestações, de todas as partes, chamou-me atenção um dos cartazes de quem era contrário ao Plano Diretor proposto: tratava-se de uma acusação de que o novo regramento seria, na realidade, um “plano de negócios”.
Como entusiasta do mercado, automaticamente pensei: “que bom seria”. E fiquei refletindo sobre o que subjaz ao pensamento de que um plano de negócios seria algo ruim. Certamente, tal acusação só pode partir de quem não compreende os mecanismos do capitalismo e da geração de riqueza.
De alguma forma, há pessoas que contrapõem mentalmente negócios e bem-estar, sendo que a lógica é justamente o inverso. Quanto mais negócios, mais bem-estar. Isso porque a geração de riqueza não se dá em um jogo de soma zero: não é preciso que um perca para que o outro ganhe.
Já faz muito tempo que é consabido que o valor das coisas é subjetivo. Isto é, duas pessoas podem atribuir valores diferentes para o mesmo objeto. Isso faz com que quando duas pessoas negociam algo, ambas tenham a sensação de estar ganhando. Alguém só compra um apartamento porque acha que a quantia que está pagando vale menos que o imóvel. E alguém só vende um imóvel por achar que a quantia recebida vale mais que o imóvel dado em troca. Percebam que é o mesmo imóvel, a mesma quantia, e duas pessoas com a sensação de fazer um bom negócio.
E o que isso tudo tem a ver com o Plano Diretor de Porto Alegre? Tem a ver que, se ele fosse um plano de negócios, seria benéfico para a sociedade como um todo. Isso porque um negócio, em si, gera riqueza intrínseca. As construtoras, ao enriquecerem, estariam enriquecendo também quem compra delas. Afinal, os compradores têm a percepção de enriquecimento (acham que o imóvel vale mais que o preço pago).
Mas a verdade é que a nova proposta de regramento urbano não é um plano de negócios. Ela é um conjunto de estudos técnicos de pessoas competentes nas suas áreas pensando o melhor para a cidade, e sua aprovação fará bem para a nossa Capital. Outrossim, a nossa Capital estaria ainda melhor se todos compreendessem que plano de negócios não é uma ofensa.
Advogado na CKA Advocacia e associado do Instituto de Estudos Empresariais (IEE)