Bárbara Kemp
Por muito tempo, o setor da construção civil conviveu com o improviso e a baixa previsibilidade como se fossem naturais. Mas empresas que querem crescer e se manter competitivas precisam abandonar, com urgência, a ideia de que cronograma e orçamento são metas flexíveis. A gestão profissional deixou de ser um diferencial: ela se tornou pré-requisito — e isso exige método, controle e dados.
É comum ouvir que “toda obra atrasa” ou que “orçamento é só referência”. Mas essa cultura da imprevisibilidade está com os dias contados. Quem pretende escalar, ampliar margens e consolidar sua posição no mercado precisa encarar a gestão como investimento, e não como custo.
Falo com base em quase 20 anos liderando operações de engenharia em larga escala para grandes redes nacionais, que muitas vezes envolvem dezenas de obras acontecendo simultaneamente. Em ambientes assim, não existe espaço para o improviso. O custo da falta de gestão é altíssimo: desperdício, retrabalho, atrasos, danos à reputação e perda de competitividade.
Os dados reforçam essa urgência. Segundo levantamento recente da Fundação Getulio Vargas, 82% das empresas do setor enfrentam dificuldades para contratar trabalhadores. E mais: 21% dizem que não conseguem cumprir os prazos por falta de mão de obra. Isso revela um mercado que ainda carece de estrutura, planejamento e cultura de eficiência.
O problema, no entanto, não está apenas na mão de obra ou na tecnologia disponível — e sim na ausência de uma cultura de gestão. É esse o ponto cego que muitos ainda ignoram. Com processo, disciplina e decisão estratégica, é possível entregar mais com menos, com qualidade e previsibilidade.
Gerir múltiplas obras ao mesmo tempo é como comandar diferentes orquestras em cidades distintas, todas com a mesma data de estreia. Isso exige não só uma metodologia clara e replicável, mas também ferramentas que tragam visibilidade em tempo real e equipes que saibam tomar decisões com autonomia e precisão. Muitas empresas ainda tentam aplicar a lógica de uma obra única ao gerenciamento simultâneo, e acabam se perdendo na complexidade crescente. Mudar esse jogo passa por profissionalizar a operação, adotar padrões, e integrar pessoas, processos e tecnologia — com foco em escala e consistência.
Depois de tantos projetos entregues sob pressão e prazos rígidos, cheguei a uma conclusão simples: o que garante uma obra bem-sucedida é método. E ele começa com escopo, cronograma e orçamento bem definidos desde o início. A padronização dos processos não só reduz a margem de erro como permite replicar boas práticas e evitar retrabalho. Acompanhamento diário, uso inteligente de dados e KPIs bem definidos completam o quadro.
Mas nada disso funciona sem um time bem treinado, engajado e com clareza sobre seu papel. Gestão é também sobre gente. E sobre criar uma cultura em que prazos, custos e entregas sejam tratados com seriedade — como parte da identidade da empresa.
Acredito que a escalabilidade de um negócio na construção civil passa por previsibilidade, controle de fornecedores, rastreabilidade de decisões e gestão eficiente de recursos. Quem ainda trata a obra como um território de improviso vai, inevitavelmente, ficar para trás.
A boa notícia é que mudar essa realidade está ao alcance de qualquer empresa — desde que haja decisão. Porque eficiência não é mágica. É método.
CTO e fundadora da Kemp, empresa especializada em projetos e gerenciamento de obras