Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 19 de Agosto de 2025 às 19:40

Trump e a batalha pela atenção

ARTE/JC
Compartilhe:
JC
JC
Alexandre Elmi
Alexandre Elmi
Donald Trump é um marco quando se fala sobre o impacto das redes sociais na sociedade e na política. O ano de 2016, quando se elegeu pela primeira vez, aparece em praticamente todos os estudos a respeito desta histeria digital que se instalou. Ele foi precursor em vitórias eleitorais produzidas pela cacofonia e pela construção de verdades alternativas, e agora, quase 10 anos depois, está se tornando mestre em outro tipo de magia eletrônica: a captura da atenção.
Os dados são o novo petróleo, mas a atenção é um produto ainda mais valioso. Seria o novo ouro? Tem muita gente falando muita coisa ao mesmo tempo, gerando um efeito de dispersão e confusão. Ser o assunto do momento e fazer com que um contingente gigante altere sua rotina por conta disso, é um poder extraordinário em um mundo com tanta fragmentação.
Trump sequestra a atenção do mundo com a chantagem tarifária. Coloca países e líderes empresariais de joelhos com ameaças que muitas vezes não cumpre ou atenua, criando um clima de sobressalto permanente, gerando horas e horas de negociações, planos e narrativas. Paira uma sensação de incredulidade e desconfiança, até mesmo em relação ao verdadeiro compromisso de o presidente americano implementar as medidas que anuncia. Será verdade?
Entra as várias formas de poder, de um leque que oscila entre o hard power e soft power, instalou-se esta forma da qual o empresário se tornou a referência, a capacidade de magnetizar e manter a audiência ligada. No fundo, o dom de ser assunto, plugando países e consciências em torno de uma promessa ou um discurso. Poder é influência e domínio, e as ameaças tributárias, aleatórias e, não raro, vazias de respaldo técnico, têm este potencial de assombrar e manter o mundo ligado em algo, ainda que este algo seja um delírio fugaz.
São legítimas e responsáveis as reações dos países, sejam elas meramente discursivas ou lastreadas no princípio da reciprocidade. É preciso reagir, proteger-se e resistir. Mas será necessário? Não duvido que Trump queira penalizar os países e conquistar um novo equilíbrio comercial em benefício da economia norte-americana, mas desconfio que o que ele mais quer é manter o controle da agenda, dar a cadência da pauta global. Distrair para dominar é o que diria o imperador romano Júlio César sobre esta técnica que Donald Trump manipula tão bem.
Jornalista 
 

Notícias relacionadas