Kayo Soares
A intensificação dos eventos climáticos extremos como secas, inundações e alterações no regime de chuvas já afeta diretamente sistemas produtivos em todo o mundo. A resposta a essa instabilidade climática tem exigido a adaptação de cadeias produtivas e políticas públicas, gerando, como efeito colateral, a criação de novos ativos econômicos, tecnologias e serviços especializados.
Na agricultura, por exemplo, alterações no clima têm forçado a busca por soluções técnicas para manter a produtividade, o que impulsiona o desenvolvimento de sistemas de cultivo adaptados, como estufas, estruturas de proteção e agricultura de precisão. Já o monitoramento climático e os modelos preditivos também ganham importância, tornando-se sistemas capazes de antecipar variações atmosféricas e oceânicas que alimentam decisões logísticas, estratégias urbanas e planos de contingência. Esse tipo de modelagem exige tecnologias que abrem espaço para empresas e centros de pesquisa.
Outra frente relevante é a descarbonização da economia que surgiu a partir dos compromissos internacionais, como o Acordo de Paris, que é hoje instrumentado através do mercado de carbono. Na matriz energética, vemos a transição para fontes renováveis se acelerando com o avanço tecnológico, que reduziu os custos da energia solar e eólica. A integração de sistemas elétricos entre países também tende a crescer, como vemos em iniciativas em desenvolvimento na América Latina, o que transforma infraestrutura energética em ativo geopolítico. No setor financeiro, a pauta climática passou a integrar a análise de risco. Empresas com práticas ambientais, sociais e de governança mais robustas são percebidas como menos expostas a crises reputacionais, sanções regulatórias e passivos judiciais. E esse movimento tem influenciado decisões de investimento, especialmente em portfólios de longo prazo.
A bioeconomia, tecnologias ambientais, energias renováveis e serviços de adaptação climática formam hoje um conjunto crescente de ativos econômicos vinculados à resposta à crise ambiental. Tratar esses ativos com rigor técnico e planejamento estratégico não significa celebrar a crise climática, mas sim reconhecer que a resposta a ela passa, inevitavelmente, por inovação, regulação e reestruturação econômica.
CEO da Arvut, consultoria especializada em Meio Ambiente e EHS