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Publicada em 06 de Agosto de 2025 às 14:00

A ascensão da IA e o aprofundamento das desigualdades entre os jovens

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Carlos Henrique LimaA ascensão da inteligência artificial (IA) no mercado de trabalho tem aprofundado desigualdades já existentes, sobretudo entre jovens em situação de vulnerabilidade social. Com esse grupo enfrentando diversas barreiras estruturais para acessar educação de qualidade, conectividade e oportunidades de formação, o desenvolvimento das habilidades técnicas e socioemocionais cada vez mais exigidas pelas empresas fica comprometido. Assim, em vez de inclusão e acessibilidade, o avanço da IA pode representar exclusão profissional, baixa empregabilidade, limitação das perspectivas de renda e perpetuação dos ciclos de pobreza e marginalização social.Entre os principais pontos que envolvem o tema, a automação tornou-se parte, mas não o todo do problema. Com essa forte tendência à substituição de funções específicas por máquinas e sistemas de IA nos próximos anos, os jovens vulneráveis socialmente serão os mais impactados. Isso porque esse movimento tende a atingir com mais força justamente os trabalhadores que ocupam cargos operacionais, com menor exigência de formação técnica ou superior, funções geralmente desempenhadas por jovens em início de carreira. Quando esses cargos desaparecem, sem que haja programas de capacitação acessíveis ou políticas de transição para novas funções, o resultado é um reforço das desigualdades. A tecnologia, nesse caso, não gera inclusão produtiva, mas reforça barreiras.Segundo análise da LCA 4intelligence com base em dados da OIT (Organização Internacional do Trabalho), a IA generativa pode afetar até 31,3 milhões de empregos no Brasil. Os dados apontam ainda que o grupo de jovens entre 14 e 18 anos é o terceiro mais vulnerável às transformações tecnológicas e que 12,8% dos trabalhadores nessa faixa etária estão vulneráveis à substituição por IA, já que ocupam funções altamente expostas à automação. Enquanto alguns levantamentos apontam que a IA deve eliminar milhões de empregos, o Fórum Econômico Mundial (WEF) estima que ela poderá criar cerca de 69 milhões de novas oportunidades, a maioria delas exigindo competências digitais, pensamento crítico, criatividade e resolução de problemas complexos, soft skills essenciais para o mercado atual. No Brasil, uma pesquisa realizada pelo Instituto Reciclar e o Centro Integração Empresa Escola (CIEE) mostrou que, entre as competências socioemocionais em maior procura pelos empregadores, estão as habilidades de comunicação, proatividade e flexibilidade de adaptação diante de situações inesperadas. Porém, mesmo com perspectivas positivas, a transição poderá ser especialmente desafiadora para quem tem menor escolaridade ou acesso limitado à tecnologia.Por isso, é preciso ir além e assumir um compromisso real: o que estamos dispostos a fazer para combater as desigualdades que afetarão principalmente os jovens em situação de vulnerabilidade social no Brasil? A resposta para essa pergunta está em investir em formação técnica acessível, promover programas de educação inclusiva, oferecer mentorias de carreira para esses jovens e garantir apoio concreto para o desenvolvimento dessa geração, que estará no centro da força de trabalho nos próximos anos. Para isso, o envolvimento dos três setores se faz necessário, seja com a promoção, desenvolvimento ou execução de projetos, é preciso viabilizar a inclusão produtiva e gerar mais oportunidades, caminhos e condições reais para que todos possam acompanhar as transformações do mercado e as tendências do futuro do trabalho.
Carlos Henrique Lima

A ascensão da inteligência artificial (IA) no mercado de trabalho tem aprofundado desigualdades já existentes, sobretudo entre jovens em situação de vulnerabilidade social. Com esse grupo enfrentando diversas barreiras estruturais para acessar educação de qualidade, conectividade e oportunidades de formação, o desenvolvimento das habilidades técnicas e socioemocionais cada vez mais exigidas pelas empresas fica comprometido. Assim, em vez de inclusão e acessibilidade, o avanço da IA pode representar exclusão profissional, baixa empregabilidade, limitação das perspectivas de renda e perpetuação dos ciclos de pobreza e marginalização social.

Entre os principais pontos que envolvem o tema, a automação tornou-se parte, mas não o todo do problema. Com essa forte tendência à substituição de funções específicas por máquinas e sistemas de IA nos próximos anos, os jovens vulneráveis socialmente serão os mais impactados. Isso porque esse movimento tende a atingir com mais força justamente os trabalhadores que ocupam cargos operacionais, com menor exigência de formação técnica ou superior, funções geralmente desempenhadas por jovens em início de carreira. Quando esses cargos desaparecem, sem que haja programas de capacitação acessíveis ou políticas de transição para novas funções, o resultado é um reforço das desigualdades. A tecnologia, nesse caso, não gera inclusão produtiva, mas reforça barreiras.

Segundo análise da LCA 4intelligence com base em dados da OIT (Organização Internacional do Trabalho), a IA generativa pode afetar até 31,3 milhões de empregos no Brasil. Os dados apontam ainda que o grupo de jovens entre 14 e 18 anos é o terceiro mais vulnerável às transformações tecnológicas e que 12,8% dos trabalhadores nessa faixa etária estão vulneráveis à substituição por IA, já que ocupam funções altamente expostas à automação.

Enquanto alguns levantamentos apontam que a IA deve eliminar milhões de empregos, o Fórum Econômico Mundial (WEF) estima que ela poderá criar cerca de 69 milhões de novas oportunidades, a maioria delas exigindo competências digitais, pensamento crítico, criatividade e resolução de problemas complexos, soft skills essenciais para o mercado atual. No Brasil, uma pesquisa realizada pelo Instituto Reciclar e o Centro Integração Empresa Escola (CIEE) mostrou que, entre as competências socioemocionais em maior procura pelos empregadores, estão as habilidades de comunicação, proatividade e flexibilidade de adaptação diante de situações inesperadas. Porém, mesmo com perspectivas positivas, a transição poderá ser especialmente desafiadora para quem tem menor escolaridade ou acesso limitado à tecnologia.

Por isso, é preciso ir além e assumir um compromisso real: o que estamos dispostos a fazer para combater as desigualdades que afetarão principalmente os jovens em situação de vulnerabilidade social no Brasil? A resposta para essa pergunta está em investir em formação técnica acessível, promover programas de educação inclusiva, oferecer mentorias de carreira para esses jovens e garantir apoio concreto para o desenvolvimento dessa geração, que estará no centro da força de trabalho nos próximos anos. Para isso, o envolvimento dos três setores se faz necessário, seja com a promoção, desenvolvimento ou execução de projetos, é preciso viabilizar a inclusão produtiva e gerar mais oportunidades, caminhos e condições reais para que todos possam acompanhar as transformações do mercado e as tendências do futuro do trabalho.
Diretor executivo do Instituto Reciclar

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