Carlos José Antônio Kümmel Félix
Já escrevi, tempos atrás, sobre a BR-158: uma rodovia que corta o coração do Rio Grande, levando riqueza, escoando produção, transportando vidas e sonhos. Era para ser símbolo de desenvolvimento. Mas, na prática, virou sinônimo de risco, medo e descaso. É um teste diário de paciência — e, principalmente, de fé. Porque, sem fé, fica impossível acreditar que vamos chegar ao destino sem sobressaltos
Basta percorrer o trecho entre Tupanciretã e Santa Maria para ver que a rodovia virou uma armadilha traiçoeira: buracos, poças fundas, pista desnivelada, muitos trechos sem sinalização e sem tachões que poderiam ser guias para quem trafega, sobretudo à noite. Não é exagero — é a dura realidade.
E não se diga que as autoridades desconhecem a situação. Está no Código (Artigo 88): "Nenhuma via pavimentada poderá ser entregue ou reaberta ao trânsito após a realização de obras ou de manutenção, enquanto não estiver devidamente sinalizada, vertical e horizontalmente, de forma a garantir as condições adequadas de segurança na circulação."
De dia, com sol, já é um desafio: motoristas em ziguezague para escapar das crateras. Mas à noite, ou sob chuva e neblina, é quase roleta-russa. O que deveria ser caminho de progresso vira um corredor de medo. A estrada, já castigada, desaparece sob a água, e cada quilômetro rodado é uma aposta contra a sorte. É desesperador!
A BR-158 não é apenas estrada: é sustento, é rota escolar, é acesso à saúde, é dignidade. É dela que depende boa parte da economia regional, estadual e até nacional. Mas parece que só se olha para os grãos e mercadorias, esquecendo-se do mais importante — as pessoas!
Pagamos impostos altos, comemoramos índices do PIB, falamos em soberania nacional — mas esquecemos o essencial: a dignidade de quem trafega. São vidas em risco, ameaçadas pela indiferença justamente de quem deveria zelar por elas.
Fica o apelo — ou melhor, a cobrança: até quando vamos tolerar que o asfalto seja armadilha mortal? Até quando promessas ficarão no discurso, enquanto as ações concretas seguem adiadas?
Que as autoridades, representantes e sociedade organizada olhem para a BR-158 com a mesma prioridade com que olham para a produção que por ela passa. Porque estrada bem cuidada não é favor: é segurança, respeito, desenvolvimento. É garantir o presente — e proteger o futuro.
Estrada boa não é favor, é obrigação! É para salvar vidas!
Engenheiro civil e professor da UFSM