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Publicada em 07 de Agosto de 2025 às 18:38

Conservar o solo para proteger o clima

Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN)

Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN)

Divulgação/JC
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Malu Nunes
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"Afagar a terra, conhecer os desejos da terra." O verso de Milton Nascimento e Chico Buarque traz uma lição urgente: compreender e respeitar as necessidades do solo e da natureza. Apesar da crise climática, pouco se fala sobre como o solo é aliado no enfrentamento do aquecimento global, na adaptação da sociedade e na mitigação de eventos extremos. É ele quem garante água, alimentos e biodiversidade.
As mudanças climáticas afetam diretamente o solo, comprometendo sua capacidade produtiva e sua estrutura. Secas, enchentes e outros extremos agravam a erosão e a perda de fertilidade. O mau uso da terra agrava esse quadro e ainda gera emissões de gases de efeito estufa (GEE). Por outro lado, práticas sustentáveis ajudam o solo a capturar carbono e a reduzir o aquecimento global.
Dados do Centro de Estudos de Carbono na Agricultura Tropical (Esalq/USP) mostram que 38% dos solos da América Latina e Caribe estão degradados — índice acima da média global, de 33%. O levantamento avaliou porosidade, estoque de carbono e capacidade de retenção de água.
O desastre climático no Rio Grande do Sul em 2024 é um alerta. Segundo estudo da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a Serra Gaúcha pode levar até 40 anos para recuperar seus solos, após perder nutrientes levados pela enxurrada. No mesmo ano, uma das piores secas desde 1950 atingiu quase 60% do Brasil, agravando insegurança hídrica, insegurança alimentar e inflação.
Cuidar do solo é fundamental para minimizar os impactos climáticos. Estudos da Apta e da Embrapa Meio Ambiente mostram que a conversão de florestas em pastagens e lavouras responde por 41,4% das emissões do agro no país, devido à perda de carbono no solo. A boa notícia é que técnicas como rotação de culturas e sistemas agroflorestais são capazes de reverter esse quadro, sequestrando carbono e restaurando a saúde da terra.
O tema esteve na pauta das três convenções da ONU assinadas na Rio 92 — sobre Biodiversidade, Clima e Desertificação — e precisa ganhar força nas discussões da COP 30, em Belém (PA), em novembro.
A solução está na própria natureza. No Paraná, por exemplo, o movimento Viva Água une sociedade, produtores, governo, empresas e cientistas na recuperação do solo em uma região vital para o abastecimento de água de 650 mil pessoas. O solo, quando protegido, garante água limpa, segurança alimentar, biodiversidade e clima equilibrado. O futuro depende da terra — e ela precisa, urgentemente, da nossa atenção.
Diretora executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN)
 

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