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Publicada em 30 de Julho de 2025 às 14:00

O incômodo das Big Techs com um Brasil mais soberano

Eduarda Camargo, Chief Growth Officer da Portão 3 (P3), plataforma de gestão de pagamentos

Eduarda Camargo, Chief Growth Officer da Portão 3 (P3), plataforma de gestão de pagamentos

Divulgação/JC
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Eduarda Camargo
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A tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros não deve ser vista apenas como mais um embate comercial. Há sinais claros de que esse gesto é parte de uma ofensiva mais ampla, em que as grandes empresas de tecnologia atuam como peças-chave. À medida que o Brasil começa a afirmar sua autonomia digital, contrariando interesses dessas gigantes, cresce a sensação de que estamos diante de uma retaliação coordenada, política, econômica e ideológica.

Nos bastidores, o desconforto das Big Techs parece vir do acúmulo de medidas que ameaçam seus modelos de negócio. O Pix, por exemplo, é um sistema de pagamentos gratuito e eficiente que incomoda empresas que lucram com taxas e intermediação financeira. A discussão sobre responsabilidade das plataformas na moderação de conteúdo, especialmente em temas como desinformação e discurso de ódio, também contraria o laissez-faire que essas corporações defendem para operar com o mínimo de responsabilização.

Além disso, o Brasil tem dado sinais de que quer proteger seus próprios dados e não ceder, de forma irrestrita, ao armazenamento e controle estrangeiro. Essa defesa da soberania digital, somada a iniciativas que buscam diversificar alianças tecnológicas fora do eixo dos Estados Unidos, incomoda empresas acostumadas a moldar as regras conforme suas próprias conveniências. Não surpreende que tenham se reaproximado do novo governo norte-americano com a intenção de conter esse avanço.

A verdade é que, quando interesses nacionais entram em rota de colisão com os interesses das Big Techs, essas empresas não hesitam em acionar sua influência política. Hoje, elas não operam apenas no mercado, operam no poder. E fazem isso construindo pontes com governos simpáticos às suas agendas, usando a diplomacia e o comércio como instrumentos de pressão para garantir que países como o Brasil não escapem de suas redes de influência.

O tarifaço, nesse contexto, parece menos uma questão de soja ou aço e mais um recado: desafiar o domínio digital tem custo. O que está em jogo não é só o acesso a mercados, mas a possibilidade de um país escrever suas próprias regras no mundo digital. O Brasil está sendo punido por ousar pensar com cabeça própria e isso só reforça a urgência de defender, com ainda mais coragem, a nossa soberania informacional.
Chief Growth Officer da Portão 3 (P3), plataforma de gestão de pagamentos

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