Vera Armando
Estamos vivendo uma verdadeira epidemia de feminicídios no Estado. E a violência vicária, quando o agressor atinge filhos para ferir as mães, tem se tornado cada vez mais comum. Enquanto isso, os avanços que vemos ainda são pontuais e estão longe de atender à gravidade da realidade.
Foi preciso que a Assembleia Legislativa pressionasse o governo para recriar a Secretaria da Mulher, um órgão que estava extinto há dez anos. Como mulher e vereadora, sei o quanto uma secretaria específica é essencial para planejar, executar e fiscalizar políticas públicas voltadas às mulheres. Mas não podemos permitir que seja apenas uma vitrine política. É preciso garantir orçamento, equipe técnica e ações concretas.
Outro ponto alarmante é a situação da Patrulha Maria da Penha. A expansão do programa está parada há quatro anos. Hoje, apenas 22,9% dos municípios gaúchos contam com esse serviço especializado. Dos 1.234 feminicídios registrados entre 2012 e maio de 2025, 412 ocorreram onde não há Patrulha Maria da Penha.
São milhares de mulheres entregues à própria sorte. A Brigada Militar tenta suprir essa lacuna com deslocamentos e capacitações, mas isso está longe de substituir patrulhas fixas. Sem presença local, cresce a sensação de impunidade dos agressores.
Aqui em Porto Alegre foi aprovado por unanimidade meu projeto que torna a Patrulha Maria da Penha uma política pública permanente para garantir que o programa não fique sujeito à vontade de governos futuros e siga fiscalizando medidas protetivas e monitorando as vítimas.
Também propus o Observatório Municipal de Violência contra a Mulher para coletar dados sólidos sobre agressões, feminicídios e violência vicária. Sem dados, não existe diagnóstico para criação de políticas públicas eficazes. Também busco a inclusão do Violentômetro como material didático para que a escola esteja unida em educar meninos a serem homens respeitosos e meninas a reconhecerem sinais de violência e exigirem dignidade.
Propostas construídas ouvindo quem vive isso na pele: sobreviventes de feminicídio, profissionais da saúde, segurança e assistência. E todos concordam: sem rede articulada, Estado presente, educação e escuta ativa, nada muda.
A violência contra a mulher não começa com um soco, mas com humilhações, ameaças e silêncios. Para quebrar esse ciclo, é preciso mais que leis: é preciso ação do Estado e compromisso de todos. Chega de luto. Chega de impunidade.
Vereadora de Porto Alegre