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Publicada em 09 de Julho de 2025 às 19:00

Indústria fóssil sócia das enchentes no RS

Juliano Bueno, diretor técnico do Instituto Internacional Arayara e doutor em riscos e emergências climáticas

Juliano Bueno, diretor técnico do Instituto Internacional Arayara e doutor em riscos e emergências climáticas

Divulgação/JC
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Juliano Bueno
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Mais de um ano após a maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul, o povo gaúcho enfrenta novamente a dor da perda. Já são cinco mortos e mais de 9 mil pessoas fora de casa. Desde as enchentes anteriores, pouco mudou — não por falta de aviso, mas por negligência do governador Eduardo Leite (PSDB), que insiste em um Plano de Transição Energética "fake".
O Instituto Internacional Arayara alertou o governo sobre o risco de novas enchentes. Como não houve escuta, foi preciso recorrer à justiça. Em dezembro de 2024, após ação da Arayara, a Vara Regional do Meio Ambiente suspendeu o plano estadual por falta de participação social e de alternativas reais para a matriz energética.
Mesmo diante da emergência climática, o plano de Leite era centrado no carvão, uma das fontes mais poluentes. Não citava sequer fontes de energia limpa. A Araya reivindicou a criação de um comitê participativo e um plano justo, com medidas para descomissionar o setor fóssil.
O Rio Grande do Sul abriga algumas das principais termelétricas do País, como Candiota III e Pampa Sul, movidas a carvão de baixa eficiência e maior emissão de gases de efeito estufa por energia gerada do Brasil, segundo o Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA). Além disso, o Estado tem a única Secretaria de Meio Ambiente do mundo que abriga uma mineradora de carvão — a CRM, vinculada à Sema RS. Também é o único Estado com legislação estadual pró-carvão: a Lei 15.047/2017, que criou a Política Estadual do Carvão Mineral.
Hoje, o povo gaúcho é refém não só de tragédias climáticas que poderiam ter sido evitadas, mas de políticas públicas falhas. Um estado que desmonta seu Código Ambiental e fortalece a indústria fóssil não está cumprindo seu dever. As indústrias do carvão e do petróleo são cúmplices dessas tragédias. Por isso, seguiremos lutando pela descontinuidade dessas atividades e por uma transição energética verdadeira, que proteja vidas e o futuro.
Diretor técnico do Instituto Internacional Arayara e doutor em riscos e emergências climáticas
 

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