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Publicada em 06 de Julho de 2025 às 19:40

É preciso mudar hábitos na nossa economia

Gustavo Machado, economista e associado do Instituto de Estudos Empresariais (IEE)

Gustavo Machado, economista e associado do Instituto de Estudos Empresariais (IEE)

Divulgação/JC
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Gustavo Machado
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O Banco Central (BC) vem aumentando a taxa Selic desde setembro do ano passado, ocasião em que a inflação de 12 meses alcançava 4,42% ao ano, beirando o limite máximo da meta. A inflação é a perda do poder de compra, isto é, as pessoas ficam mais pobres, porque conseguem comprar menos produtos com a mesma quantidade de dinheiro.
Parte dessa desvalorização se deu por problemas nas cadeias de produção globais, com aumento de preços de alguns alimentos produzidos em regiões afetadas por secas ou excesso de chuvas. A outra parcela se deu pelo excesso de gastos e incentivos do governo federal, que fomenta o crescimento econômico em um primeiro momento, mas causa desvalorização da moeda - inflação - pela injeção de dinheiro na economia.
A inflação mais alta exige uma Selic também em nível superior. Com a taxa maior, os juros sobre a dívida do governo também aumentam, causando um déficit nominal ainda mais avantajado. Esse déficit nominal considera os juros da dívida nas contas do governo.
Aqui evidenciamos dois problemas causados por gastos públicos exagerados: inflação e aumento da dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). Mas o pior está nas expectativas, os juros futuros, que apontam quanto será a Selic daqui a cinco, sete, dez anos. São esses índices que precificam os empréstimos, financiamentos e investimentos de longo prazo.
Se a inflação é mais alta no presente, os emprestadores (investidores) exigem juros maiores para garantir que seu dinheiro tenha poder de compra no futuro. Se o endividamento do governo aumenta, o risco de calote piora e os investidores exigem juros ainda maiores. Com o mercado exigindo prêmios (juros) elevados do governo, imagine o que sobra para os consumidores e as empresas, que precisam do recurso de empréstimos e financiamentos.
A Selic alta é o remédio para a inflação do presente, mas esse é apenas um sintoma do problema maior, que são os déficits recorrentes nas contas públicas. Doença que assola todos os países em desenvolvimento.
A economia é um organismo extremamente complexo e, assim como o corpo humano, tem suas doenças, sintomas e remédios. Sem a devida atenção às contas públicas, o Brasil não conseguirá reduzir os juros. O hábito nocivo que já quebrou o País inúmeras vezes precisa ter fim.
Economista e associado do Instituto de Estudos Empresariais (IEE)
 

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