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Publicada em 03 de Julho de 2025 às 19:00

Mondragón: cinco lições para o cooperativismo

Simone Zanatta, gerente de Marketing do Sistema Ocergs

Simone Zanatta, gerente de Marketing do Sistema Ocergs

Divulgação/JC
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Simone Zanatta
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Quando ingressei no cooperativismo, trazia comigo uma bagagem do varejo: metas, indicadores e foco em rentabilidade. Ainda que esses elementos façam parte da realidade das cooperativas, a recente missão técnica realizada pelo Sistema Ocergs a Mondragón, no País Basco, representou um ponto de inflexão na minha forma de compreender estratégia organizacional — e pode servir de inspiração para fortalecer ainda mais o cooperativismo gaúcho.
Em Mondragón, referência mundial em gestão de cooperativas, o ponto de partida não são os números, mas as pessoas. Na cidade basca, os recursos circulam dentro da própria comunidade. A colaboração entre cooperativas, a gestão compartilhada e o compromisso com o desenvolvimento local criam um ambiente de resiliência e solidez. E mais: há critérios rígidos para expansão — uma nova cooperativa só é incorporada ao sistema após cumprir cinco anos de resultados consistentes. Assim, quando uma delas enfrenta dificuldade, as demais oferecem suporte. É a intercooperação na prática.
Esse modelo serve de referência para o enfrentamento dos desafios de muitas cooperativas brasileiras, inclusive do Rio Grande do Sul, onde o movimento cooperativista tem bases sólidas. A experiência basca mostra que é possível crescer com cautela, sem abrir mão da eficiência e da autonomia local.
O investimento em pesquisa e inovação é contínuo, com destaque para temas como inteligência artificial, energia limpa e mobilidade elétrica. O diferencial, no entanto, está na internalização desses processos: os avanços tecnológicos são desenvolvidos dentro das próprias cooperativas ou em centros associados, como o Ikerlan.
A governança completa esse ciclo virtuoso: todos os cooperados têm participação efetiva nas decisões. Presidentes e conselheiros cumprem mandatos definidos, e os resultados são distribuídos com transparência, a partir de regras coletivamente estabelecidas.
Para quem pertence ao mundo corporativo tradicional, estudar esse sistema é como aprender uma nova língua, na qual inovação, eficiência e compromisso com as pessoas coexistem com naturalidade. Tenho a convicção de que o cooperativismo gaúcho está apto a avançar ainda mais: fortalecendo a intercooperação, investindo em inovação e unindo valores e competências técnicas. O futuro do cooperativismo pode — e deve — ser construído com raízes locais e visão global.
Gerente de Marketing do Sistema Ocergs
 

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