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Publicada em 06 de Julho de 2025 às 14:00

Os desafios da saúde mental no Brasil

Marcos Torati, psicólogo, professor e mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP

Marcos Torati, psicólogo, professor e mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP

Divulgação/JC
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Marcos ToratiApesar dos avanços proporcionados pela reforma psiquiátrica, a jornada em busca de uma saúde mental plena e acessível para todos os brasileiros ainda enfrenta obstáculos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019 o Brasil já era tido como o país com maior prevalência de ansiedade no mundo, com cerca de 18,6 milhões de pessoas ansiosas. Historicamente, nossa sociedade tende a relegar o sofrimento psíquico ao domínio espiritual, obscurecendo a compreensão da saúde mental como parte do bem-estar geral. Esse preconceito dificulta o reconhecimento da necessidade de tratamento profissional e perpetua a ideia equivocada de que buscar ajuda psicológica é sinal de fraqueza ou inadequaçãoEssa resistência se manifesta de forma particularmente preocupante entre a população masculina. Imersos em um ideal de masculinidade tóxica, forjado pelo machismo, os homens são frequentemente desencorajados a expressar suas vulnerabilidades emocionais. O acesso aos tratamentos psicológicos e psiquiátricos no Brasil ainda está longe do ideal. A cobertura da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e do Sistema Único de Saúde (SUS) é limitada e desigual, afetando especialmente as populações de baixa renda que não possuem recursos para arcar com tratamentos particulares.O Relatório Saúde Mental em Dados nº 13 do Ministério da Saúde, publicado em fevereiro de 2025, retrata que existem 3.019 unidades do CAPS no País, porém, regiões como o Norte, Centro-Oeste e Sudeste contam com 0,79, 0,81 e 1,12 CAPS a cada 100 mil habitantes, respectivamente. A desproporção entre o número de pacientes e a disponibilidade de profissionais resulta em longas filas de espera, retardando o acesso a cuidados essenciais. Superar o preconceito em relação à terapia é importante para transformar o cuidado psicológico em um serviço de saúde acessível e naturalizado no Brasil. Isso implica em desconstruir a ideia de que dificuldades psicológicas são sinônimo de fraqueza, falha moral ou ausência de fé. Como sabiamente observou Freud, talvez fôssemos mais saudáveis se tivéssemos "permanecido menos perfeitos".Embora o Brasil tenha trilhado um caminho importante na reforma psiquiátrica, a jornada rumo a uma saúde mental equitativa e acessível para todos ainda é longa e desafiadora.
Marcos Torati

Apesar dos avanços proporcionados pela reforma psiquiátrica, a jornada em busca de uma saúde mental plena e acessível para todos os brasileiros ainda enfrenta obstáculos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019 o Brasil já era tido como o país com maior prevalência de ansiedade no mundo, com cerca de 18,6 milhões de pessoas ansiosas.

Historicamente, nossa sociedade tende a relegar o sofrimento psíquico ao domínio espiritual, obscurecendo a compreensão da saúde mental como parte do bem-estar geral. Esse preconceito dificulta o reconhecimento da necessidade de tratamento profissional e perpetua a ideia equivocada de que buscar ajuda psicológica é sinal de fraqueza ou inadequação

Essa resistência se manifesta de forma particularmente preocupante entre a população masculina. Imersos em um ideal de masculinidade tóxica, forjado pelo machismo, os homens são frequentemente desencorajados a expressar suas vulnerabilidades emocionais.

O acesso aos tratamentos psicológicos e psiquiátricos no Brasil ainda está longe do ideal. A cobertura da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e do Sistema Único de Saúde (SUS) é limitada e desigual, afetando especialmente as populações de baixa renda que não possuem recursos para arcar com tratamentos particulares.

O Relatório Saúde Mental em Dados nº 13 do Ministério da Saúde, publicado em fevereiro de 2025, retrata que existem 3.019 unidades do CAPS no País, porém, regiões como o Norte, Centro-Oeste e Sudeste contam com 0,79, 0,81 e 1,12 CAPS a cada 100 mil habitantes, respectivamente. A desproporção entre o número de pacientes e a disponibilidade de profissionais resulta em longas filas de espera, retardando o acesso a cuidados essenciais.

Superar o preconceito em relação à terapia é importante para transformar o cuidado psicológico em um serviço de saúde acessível e naturalizado no Brasil. Isso implica em desconstruir a ideia de que dificuldades psicológicas são sinônimo de fraqueza, falha moral ou ausência de fé. Como sabiamente observou Freud, talvez fôssemos mais saudáveis se tivéssemos "permanecido menos perfeitos".

Embora o Brasil tenha trilhado um caminho importante na reforma psiquiátrica, a jornada rumo a uma saúde mental equitativa e acessível para todos ainda é longa e desafiadora.
Psicólogo, professor e mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP

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