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Publicada em 23 de Junho de 2025 às 18:24

Lições de uma tragédia anunciada

Marcio Aguilar, advogado e presidente do Sindicato das Sociedades de Fomento Comercial – Factoring do Rio Grande do Sul (Sinfac-RS)

Marcio Aguilar, advogado e presidente do Sindicato das Sociedades de Fomento Comercial – Factoring do Rio Grande do Sul (Sinfac-RS)

Divulgação/JC
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Marcio Aguilar
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Maio ficará marcado para sempre como o mês em que o Rio Grande do Sul parou. As enchentes históricas que em 2024 atingiram mais de 2,3 milhões de pessoas, deixaram 183 mortos e causaram prejuízos econômicos superiores a R$ 15 bilhões. Em Porto Alegre, o colapso do sistema de contenção de cheias revelou fragilidades acumuladas por décadas de falta de manutenção, planejamento e investimento.
Pouco mais de um ano depois, muito foi feito em caráter emergencial. A União anunciou quase R$ 99 bilhões em medidas de apoio, o Estado lançou o Plano Rio Grande e a prefeitura correu para retomar estruturas básicas. No entanto, a infraestrutura segue vulnerável e o risco de novos eventos extremos permanece. A resiliência prometida ainda não se concretizou. A vulnerabilidade permanece.
Porto Alegre segue sem um sistema plenamente funcional de contenção de águas. A maior parte da infraestrutura hídrica opera no limite. A região metropolitana, que concentra quase 40% do PIB gaúcho, não tem plano integrado de prevenção a desastres climáticos.
O setor produtivo atingido, especialmente os pequenos negócios, segue tentando se reerguer. A realidade é dura. Do ponto de vista macro, o Estado se recuperou. Do ponto de vista das comunidades atingidas, muitas empresas encerraram atividades ou simplesmente desapareceram. Outras resistem com ajuda de crédito emergencial, renegociação de dívidas e apoio das empresas de fomento. Como representante deste setor, alerto que reconstruir não é apenas reerguer prédios, mas entender o que houve e o porquê, e assim transformar mentalidades e estruturas.
A reconstrução não pode ser apenas de concreto. Precisa ser institucional, social e econômica. Implica revisar o modelo de ocupação urbana, repensar a gestão das águas, agir de forma a prever e prevenir com forte investimento em ciência e em tecnologia. O crédito deve servir à reconstrução com responsabilidade e visão de futuro. Precisamos de metas claras, com prazos e fontes de financiamento definidas, para modernizar o sistema de contenção de cheias, ampliar o monitoramento climático e estruturar políticas públicas de adaptação.
A maior tragédia climática da história do RS nos deu um alerta. Agora, cabe a nós decidir se aprenderemos com ela ou se apenas aguardaremos a próxima.
 
Advogado e Presidente do Sindicato das Sociedades de Fomento Comercial - Factoring do Rio Grande do Sul (Sinfac-RS)
 

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