Amanda Paim
Em um momento em que o Rio Grande do Sul ainda enfrenta os desafios da reconstrução após as enchentes de 2024, olhar para as potencialidades locais é essencial para impulsionar a retomada econômica do Estado. As Indicações Geográficas (IGs), que valorizam produtos com forte identidade territorial, podem ser protagonistas nesse movimento, incentivando não somente os produtores, mas também o turismo gaúcho e a nossa imagem.
O Connection - Terroirs do Brasil é um exemplo de fomento das IGs, com mais de 50 produtos com selo, como cafés, queijos, vinhos e tantas outras delícias. Mas esse tipo de iniciativa vai muito além do evento em si. É sobre transformar produtos locais em verdadeiros ícones, que mexem com o orgulho, atraem turistas e movimentam a economia. São sabores próprios da região que servem como um cartão de visitas para explorar a essência do local.
É exatamente essa estratégia que Portugal empregou com os vinhos do Douro, por exemplo. Para além da denominação de origem que agrega valor à bebida, os portugueses souberam empregar bem a lógica da indicação geográfica, impulsionando o turismo na região. Quem vai ao país, já tem no roteiro um passeio de barco pelo Rio Douro ou mesmo uma visita a uma cave do Porto ou de Vila Nova de Gaia. As atrações complementam a experiência do turista a partir do argumento da IG. Mais do que um marketing bem feito, é a conquista do público pela qualidade dos produtos e pela oportunidade de saborear algo típico, algo único. Aqui no Brasil, estamos começando a ver isso acontecer também.
Em todo o País, os produtos IGs podem desempenhar papel semelhante. Eles estimulam o desenvolvimento local, promovem o turismo de experiência e ajudam a fixar as pessoas no campo, ao agregar valor e reconhecimento ao que é produzido, tendo papel fundamental também para microempreendedores, produtores e associações.
Um exemplo incrível disso é o mel de melato de bracatinga, que acabou de conquistar a IG. Um mel com sabor e história tão únicos, que não se replica em nenhum outro lugar do mundo. Esse reconhecimento não só valoriza quem produz, mas abre as portas para o turismo em 134 municípios do Sul do país, para os negócios e para uma nova forma de enxergar a nossa própria identidade.
Neste momento, investir na valorização das IGs significa mais do que impulsionar vendas; significa reafirmar a nossa identidade cultural e criar novas oportunidades de renda, emprego e projeção internacional.
Especialista em Turismo do Sebrae RS