Bruno Schneider de Araujo
O mês de junho, caracterizado por seus dias mais curtos e noites prolongadas, convida à introspecção, inclusive no que diz respeito à saúde dos olhos. Os efeitos da redução na incidência solar típica deste período, especialmente nas faixas violeta e ultravioleta do espectro luminoso, têm despertado crescente interesse na comunidade oftalmológica.
Evidências contemporâneas sugerem que a exposição moderada à luz solar exerce um papel benéfico sobre a visão, contribuindo para o fortalecimento da córnea e para a prevenção de alterações estruturais que podem comprometer sua integridade.
Em contraste, o estilo de vida moderno, marcado pelo confinamento em ambientes fechados e pelo uso excessivo de eletrônicos, sobretudo entre crianças e adolescentes, reduz significativamente o contato com a luz natural. Essa privação, aliada a comportamentos repetitivos como o ato de coçar os olhos, favorece o desenvolvimento do ceratocone, uma doença progressiva da córnea que pode evoluir para perda visual acentuada. Atualmente, o ceratocone configura-se como a principal causa de transplantes de córnea em todo o mundo. É nesse cenário que surge a campanha Junho Violeta, uma iniciativa da oftalmologia brasileira voltada à conscientização da população sobre a importância da luz natural — em especial a violeta e a ultravioleta — e sobre os riscos do ato de coçar os olhos. Lançada no mês de menor incidência solar, a campanha visa ampliar o conhecimento sobre os fatores de risco e incentivar práticas preventivas simples, porém eficazes.
O ceratocone costuma manifestar-se na adolescência ou no início da vida adulta, gerando limitações importantes nas atividades diárias e impactando não apenas a autonomia individual, mas também a dinâmica familiar. O diagnóstico precoce, feito por um oftalmologista, é determinante para evitar a progressão da doença e preservar a qualidade de vida.
Difundir essa mensagem, tão acessível quanto necessária, pode ter um impacto transformador. Em uma era cada vez mais digital, é fundamental estimular as crianças a brincarem ao ar livre, praticar atividades físicas e, sobretudo, evitar o hábito de coçar os olhos.
Os ganhos extrapolam a esfera oftalmológica, refletindo-se positivamente na saúde física, emocional e cognitiva.
Se, ao disseminar esse conhecimento, ao menos um caso de ceratocone for prevenido, então a leitura deste texto já terá valido à pena.
Presidente da Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Sul (SORIGS)