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Publicada em 11 de Junho de 2025 às 19:30

Corrida energética e desigualdades globais

Eric Daza, especialista em energia e mudanças climáticas

Eric Daza, especialista em energia e mudanças climáticas

Divulgação/JC
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Eric Daza
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Durante décadas, o domínio do petróleo e do gás definiu o poder econômico e geopolítico global. Agora, com a transição energética para fontes de energia limpa, essa dinâmica começa a mudar. No entanto, surge uma questão inquietante: estaremos apenas trocando uma dependência por outra?
Lítio, cobalto e terras raras são minerais críticos indispensáveis para a fabricação de baterias, veículos elétricos e painéis solares. O desafio está na concentração desses recursos e do seu refino em poucos países. A China lidera no processamento de lítio e terras raras; a República Democrática do Congo domina o fornecimento de cobalto; e o chamado "Triângulo do Lítio" — Argentina, Chile e Bolívia — detém mais da metade das reservas mundiais desse mineral.
Essa concentração reacende antigos dilemas: riscos à segurança energética, pressão sobre cadeias de suprimento e novas desigualdades globais. Em resposta, países desenvolvidos, como os Estados Unidos e membros da União Europeia, buscam reduzir sua dependência da China por meio de incentivos à produção doméstica. A China, por sua vez, adota medidas restritivas à exportação de insumos estratégicos. O embate por minerais críticos já está em curso. Então, a promessa de uma transição sustentável pode, ironicamente, criar novas formas de desigualdade.
A questão é clara: segurança energética não se trata mais apenas de combustíveis fósseis, mas de quem controla os minerais que movem o futuro. Ao mesmo tempo, países detentores desses recursos enfrentam um desafio estrutural: possuem as matérias-primas, mas carecem de infraestrutura para agregar valor localmente. Sem investimentos e políticas voltadas à industrialização, correm o risco de repetir a lógica da era do petróleo — exportando riqueza bruta e importando produtos acabados, perpetuando a desigualdade.
A transição energética é crucial e inevitável. Mas seu êxito dependerá de escolhas políticas e econômicas que tornem esse novo modelo mais justo e inclusivo, não repetindo erros do passado. A grande pergunta que permanece é: a nova economia energética será um motor de empoderamento econômico ou mais um capítulo na desigualdade global? A transição é inevitável, mas a questão é: será que ela será justa?
Especialista em energia e mudanças climáticas
 

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