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Publicada em 04 de Junho de 2025 às 19:14

Produtor gaúcho entre a crise e o abandono

Onyx Lorenzoni, ex-ministro

Onyx Lorenzoni, ex-ministro

Rafael Carvalho/Divulgação/JC
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Onyx Lorenzoni
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O produtor gaúcho, fiel a sua terra, construiu com sangue e suor a espinha dorsal da nossa economia. Foi ele quem transformou o Rio Grande do Sul em celeiro do Brasil. Hoje, diante de uma calamidade sem precedentes, esse mesmo produtor clama por socorro — e o que recebe do governo federal são paliativos burocráticos. É o retrato de uma gestão marcada pelo descaso.
A resolução recentemente anunciada pelo Conselho Monetário Nacional, com pompa e propaganda, autorizando a prorrogação de dívidas rurais, escancara a desconexão entre Brasília e a realidade do campo. Em vez de enfrentar o problema, o governo opta por empurrá-lo com a barriga. É um gesto de desprezo com quem sustenta o País.
Diante da destruição de lavouras, da paralisação das atividades produtivas e do endividamento crescente, postergar prazos é como oferecer um copo d'água a um náufrago em alto-mar. A medida ignora o essencial: a perda de capacidade de pagamento dos agricultores, que viram sua renda evaporar e seus custos dispararem.
Os R$ 72 bilhões em dívidas não são fruto de má gestão, mas de anos de trabalho duro, investimentos contínuos e, agora, da violência do clima. Tratar essa dívida como algo negociável em condições normais é ilusão. Por isso, a securitização não é um favor — é uma medida urgente, justa e necessária. Permitiria ao produtor reestruturar seu passivo com prazos compatíveis com a realidade do campo, garantindo fôlego para retomar a produção.
Enquanto isso, ministros do governo Lula declaram, com uma frieza impressionante, que não há como viabilizar uma renegociação ampla com recursos do Tesouro. A mesma agilidade com que o governo libera verbas para projetos de prioridade duvidosa desaparece quando o assunto é salvar um setor estratégico como o agronegócio gaúcho.
Os protestos e bloqueios em mais de 150 municípios não são atos de rebeldia. São o grito de desespero de famílias inteiras, de homens e mulheres que dedicaram a vida ao trabalho na terra — e que hoje se veem à beira do abismo. Trata-se de uma questão de sobrevivência, não de política.
O governo Lula precisa compreender que a crise no campo gaúcho não é local, nem pontual. É uma crise nacional. Seu impacto será sentido na inflação, no abastecimento, na balança comercial. Persistir na inércia é optar pela omissão. Chega de promessas vazias e medidas cosméticas. O Rio Grande do Sul pede socorro — e o Brasil precisa ouvir.
Ex-ministro
 

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