Laura de Andrade
Acredito que a inclusão escolar de crianças com deficiência só pode ser efetiva quando há planejamento, articulação entre setores e, principalmente, dados que sustentem decisões pedagógicas. E foi com essa convicção que surgiu a Plataforma de Atenção Multidisciplinar Integrada (PAMI).
A PAMI nasceu da necessidade real de fazer o acompanhamento contínuo e fundamentado dos estudantes da educação especial, avaliando seu progresso de forma singular e personalizada, comparando-o com ele mesmo. Desde sua implantação nos municípios de Porto Alegre e Alvorada, ela vem transformando a forma como escolas públicas, equipes técnicas e gestores atuam na construção de uma escola verdadeiramente inclusiva. Até maio de 2025, a PAMI registrou mais de 11 mil intervenções, realizadas no âmbito dos programas Incluir POA e Acolher e Incluir Alvorada — iniciativas que hoje acompanham cerca de 6 mil estudantes com deficiência em ambas as redes municipais.
Mais do que um sistema de registro, a PAMI é uma plataforma de gestão educacional inclusiva. Ela é utilizada diariamente por mais de 80 profissionais qualificados que compõem uma equipe multidisciplinar que atua diretamente nas escolas, em colaboração com os professores das turmas regulares, professores AEE, gestores e famílias. Um de seus aspectos mais importantes é que cada atendimento gera dados que compõem o histórico de cada estudante. Na educação, não interessa o CID, o tipo ou qual a deficiência que a pessoa tem, e sim as "funcionalidades" desse estudante e o que nós podemos colaborar para seu desenvolvimento. Isso inclui aspectos cognitivos, motores, comunicacionais, interacionais e sociais.
Essa base de informações permite que as equipes identifiquem barreiras, proponham estratégias e planejem intervenções individualizadas com muito mais eficácia e responsabilidade. Além disso, a plataforma também está plenamente alinhada às diretrizes da Lei Brasileira de Inclusão (LBI - nº 13.146/2015) e ao Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (Lei nº 13.019/2014), já que é fruto de uma gestão compartilhada entre a ABESS e os municípios parceiros.
Acredito que a tecnologia precisa estar a serviço da dignidade e da equidade. A inclusão que desejo para nossas escolas é aquela que respeita trajetórias, compartilha responsabilidades e se constrói com planejamento, sensibilidade e inteligência coletiva.
Diretora executiva da Abess e especialista em Educação Especial e Inclusiva