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Publicada em 22 de Maio de 2025 às 19:30

O que está por trás da "moda tadala"

Gabriel Veber, urologista com especialização em Andrologia, membro da Sociedade Brasileira de Urologia e um dos fundadores da Andrologia Moinhos

Gabriel Veber, urologista com especialização em Andrologia, membro da Sociedade Brasileira de Urologia e um dos fundadores da Andrologia Moinhos

Divulgação/JC
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Gabriel Veber
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Nos últimos anos, o consumo de tadalafila, um medicamento originalmente desenvolvido para tratar disfunção erétil e hiperplasia prostática benigna, disparou no Brasil. Segundo a Anvisa, o remédio já é o terceiro mais vendido do País, atrás apenas de losartana e metformina.
Mas a alta demanda não vem apenas de pacientes com indicação médica: cresce cada vez mais o uso off-label e recreacional, especialmente entre jovens e frequentadores de academias. A promessa? Melhor vascularização, ereções mais firmes e até ganho muscular acelerado. Mas até que ponto esses efeitos são reais?
A base do uso da tadalafila no pré-treino vem da sua ação vasodilatadora: o medicamento relaxa os vasos sanguíneos, aumentando o fluxo de sangue para os tecidos. No contexto médico, isso significa melhora na ereção e redução da sobrecarga cardíaca. No contexto das academias, a teoria é de que essa maior circulação sanguínea levaria a um "pump" muscular mais intenso e recuperação mais rápida.
O problema é que não há comprovação científica robusta sobre isso. Pelo contrário, além de efeitos colaterais, o uso descontrolado pode mascarar problemas cardiovasculares e levar a complicações sérias. Quando combinada a outras substâncias, como estimulantes e anabolizantes, a tadalafila pode sobrecarregar o sistema cardiovascular.
O aumento de sua popularidade também reflete um fenômeno mais amplo: a obsessão por performance. Homens cada vez mais jovens buscam potenciais "atalhos" para maximizar tanto o físico quanto a vida sexual. Essa solução rápida pode gerar efeitos colaterais a longo prazo não apenas na saúde mas também na autoestima.
Muitos desses usuários sequer apresentam disfunção erétil, mas usam o medicamento como um "seguro" contra falhas eventuais, criando um ciclo de dependência psicológica. Quando associada à pressão estética e à expectativa irreal de desempenho sexual infalível, essa prática pode gerar ansiedade e disfunções sexuais secundárias.
Com tudo isso, expõe-se também a forma como os homens lidam com sua própria saúde. A medicina moderna precisa encarar a saúde masculina de forma integrada. Para isso, é preciso discutir o que está por trás dessa busca incessante por performance, e oferecer alternativas mais seguras e eficazes para alcançar bem-estar e equilíbrio entre corpo, mente e saúde.
Urologista com especialização em Andrologia, membro da Sociedade Brasileira de Urologia e um dos fundadores da Andrologia Moinhos
 

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