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Publicada em 17 de Maio de 2025 às 15:00

Câncer de mama em jovens e seus desafios

Dienata Ribeiro Bueno, oncologista clínica, especialista em tumores femininos

Dienata Ribeiro Bueno, oncologista clínica, especialista em tumores femininos

Divulgação/JC
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Dienata Ribeiro Bueno
Dienata Ribeiro Bueno
A incidência de câncer de mama em mulheres jovens, embora represente uma parcela menor do panorama geral, demonstra um aumento significativo nos últimos anos nessa faixa etária. Essa tendência crescente acentua os desafios singulares enfrentados por essas pacientes, que transcendem a agressividade biológica da doença.
As estimativas do INCA para o triênio 2023-2025 revelam que o câncer de mama é o tipo mais comum entre as mulheres brasileiras, com exceção do câncer de pele não melanoma. Apesar da maior concentração de casos em mulheres com mais de 50 anos, uma parcela considerável é diagnosticada em mulheres com menos de 40 anos. Essa fase da vida, frequentemente marcada pelo auge pessoal e profissional, torna o impacto da doença desproporcionalmente significativo, afetando planos de
carreira, relacionamentos e a própria identidade.
Um dos obstáculos primordiais reside no diagnóstico tardio. A menor prevalência da doença em jovens, paradoxalmente, pode levar a uma menor suspeita clínica inicial, tanto por parte das pacientes quanto dos profissionais de saúde. A densidade mamária, comum em mulheres jovens, pode dificultar a detecção precoce através da mamografia, elevando a importância de outras modalidades de imagem, como a
ultrassonografia e a ressonância magnética, no rastreamento em casos específicos.
Ultrapassada a etapa diagnóstica, o tratamento do câncer de mama em jovens demanda uma abordagem multidisciplinar e particularmente sensível às nuances dessa fase da vida. As terapias locais e sistêmicas devem ser meticulosamente individualizadas, considerando o subtipo tumoral, o estadiamento da doença e as características intrínsecas de cada paciente.
Nesse cenário, a questão da fertilidade emerge como uma preocupação central e delicada. Muitas mulheres jovens diagnosticadas com câncer de mama ainda não concretizaram planos de terem filhos. A toxicidade gonadal inerente a certos tratamentos pode resultar em infertilidade precoce e permanente. Diante dessa realidade, a discussão sobre a preservação da fertilidade deve ser integrada ao
planejamento terapêutico desde o momento do diagnóstico.
O câncer de mama em mulheres jovens configura um quadro de desafios complexos que se estendem para além do tratamento oncológico em si. O diagnóstico precoce, a individualização terapêutica e a consideração atenta das questões de fertilidade são pilares fundamentais para assegurar o melhor
prognóstico e a preservação da qualidade de vida dessas pacientes. 
Oncologista clínica, especialista em tumores femininos

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