A alta da taxa básica de juros Selic para 14,75% ao ano, anunciada na quarta-feira após a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), é mais uma tentativa do Banco Central (BC) em segurar a inflação, que tem estourado o teto da meta, e uma resposta às incertezas no cenário externo. O resultado não foi nenhuma surpresa para o mercado, que já aguardava por uma decisão nessa linha. Entretanto, o novo aumento dos juros, o sexto seguido, mantém o consumo e os investimentos em compasso de espera, freando a economia.
Ao optar por uma política monetária calcada na trajetória de reajustes da Selic, adotada desde setembro do ano passado, quando passou de 10,50% para 10,75%, o BC compromete o crescimento de vários setores econômicos. Juros altos desembocam em crédito mais caro, que freia o consumo, injeta menos dinheiro na economia e por consequência retarda investimentos das empresas. Indústria, construção civil, serviços e varejo são atingidos mais duramente, uma vez que os consumidores retraem os gastos.
Além de ser uma estratégia para controlar a inflação, o Copom também atribuiu a alta dos juros aos impactos da guerra comercial de Donald Trump, que afeta a economia global ao pressionar o dólar, elevando os custos de insumos e refletindo nas importações. Quanto a isso, só resta esperar que os Estados Unidos e demais governos entrem em sintonia e fechem acertos comerciais que tragam benefícios ao Brasil, favorecendo nossa economia.
A Selic em 14,75% ao ano é um retorno ao maior patamar da taxa em duas décadas, período em que o Copom pôde dar trégua aos juros diante de uma inflação em queda e cenário interno mais promissor. A expectativa é que a próxima reunião do colegiado do BC, marcada para os dias 17 e 18 de junho, interrompa o ciclo de aperto dos juros e inicie um novo tempo de alívio.
Para isso, é preciso que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a taxa oficial de inflação do País medida pelo IBGE, interrompa os aumentos e se distancie do teto da meta do BC, que é de 4,5%. Nesta sexta-feira, será divulgado o resultado de maio, o que pode trazer indícios de qual caminho o Copom seguirá na reunião do próximo mês.
Mas é necessário ir além de aplicar reajustes nos juros. Cabe ao governo federal "fazer o dever de casa e organizar suas contas", empregando medidas eficazes de austeridade fiscal com controle de gastos aliadas a estímulos à economia, de forma que seja possível voltar à época de juros em baixa e indicadores econômicos em alta no País.