Carlos Frederico Behrends
A calamidade pública ocorrida no Rio Grande do Sul em maio de 2024 reforçou a necessidade da atenção especial à infraestrutura estratégica do nosso estado, sobretudo em relação ao planejamento hidrográfico das bacias, a preservação das margens dos leitos dos rios e a construção de barragens para regulação de sua vazão. Recentemente, os governos estadual e municipal de Porto Alegre estiveram em missão ao exterior, vendo de perto soluções para prevenção e gestão de enchentes, todas relacionadas a esses temas. No entanto, um dos pontos a serem acrescidos na lista de atenção é a segurança energética, setor em que o Rio Grande do Sul demonstrou inequívoca fragilidade durante as enchentes.
As linhas de transmissão de energia que interligam o Rio Grande do Sul ao restante do País através do Sistema Integrado Nacional (SIN) devem passar por uma urgente revisão e reforço, com alternativas de fluxo. Essa ideia pode ser ilustrada com o fato de a subestação Nova Santa Rita, principal alimentação e centralização das linhas de transmissão do estado, especialmente da Grande Porto Alegre, ter ficado completamente inundada na ocasião das cheias, sendo, inclusive, desligada preventivamente.
Assim, todo o fluxo de energia para a região metropolitana foi redirecionado a uma única linha de transmissão de 500 KV, para uma subestação localizada em Gravataí. Caso não tivesse ocorrido a inevitável parada da indústria na cidade, teríamos, além de tudo, um apagão na Capital e arredores.
É verdade que há mobilização do governo do Estado, via Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura, de entidades como o Sindienergia-RS, da academia e de diversos agentes do setor para a promoção de estudos de alternativas. Porém, torna-se extremamente necessária e urgente a conscientização, também por parte dos órgãos federais, sobre a importância da questão energética. Hoje, não há nenhuma previsão de execução, em curto prazo, por parte dos órgãos nacionais responsáveis pelo setor energético, em realizar, por exemplo, leilões de transmissão.
Para termos um planejamento consistente, de longo prazo, para o estado do Rio Grande do Sul, a questão da segurança energética e a garantia de que estaremos com energia segura, mesmo em casos de eventos extremos, e com alternativas de fluxo de energia para conexão ao SIN, deverá ser quesito prioritário quando se fala em reconstrução, expansão e desenvolvimento.
CEO e diretor-presidente da Tecnova e diretor de Transmissão do Sindienergia-RS