Ricardo Meirelles
Elon Musk, o bilionário que se autoproclama "salvador do planeta" com carros elétricos e energia solar, acaba de anunciar o novo celular Tesla, supostamente "ecologicamente correto" por carregar via energia solar. A ideia, em tese, soaria revolucionária — se não fosse um capítulo a mais na saga de contradições de um magnata que financia inovação sustentável de um lado, enquanto apoia, do outro, políticas que aceleram a crise climática.
Fácil enxergar o oportunismo. Enquanto Musk vende ao mundo a imagem de visionário verde, sua participação no governo Trump — que retirou os EUA dos Acordo Climáticos em duas gestões presidenciais, e nesta com a promessa de furar o país inteiro em busca de petróleo — revela uma incoerência perigosa. Trump não apenas rejeita metas globais de redução de emissões, como incentiva a exploração de combustíveis fósseis, e chama o aquecimento global de "farsa". E Musk, que está ao seu lado, pactua publicamente esta postura de seu líder máximo, apoia e lucra indiscriminadamente com incentivos fiscais desse mesmo governo para suas empresas utilizando combustíveis poluentes (cite-se SpaceX).
O celular solar, portanto, parece menos uma revolução ecológica e mais uma "maquiagem verde" de alto padrão. Como acreditar em sustentabilidade patrocinada por quem se alia a quem desmonta políticas ambientais? E os governantes e as pessoas em geral têm todo o direito de escolher um lado e devemos respeitar as opiniões de todos, respeitando também o pensamento da maioria. Mas neste caso, a pretensa energia solar no bolso não compensa o apoio a um projeto que abrevia o futuro do planeta. Enquanto a Tesla vende sonhos verdes, a matriz política que Musk compactua, apoia a utilização de combustíveis fósseis que alimenta indústrias poluentes, derruba florestas e ignora a ciência.
Entretanto, a verdade é que não há neutralidade na crise climática, ainda que os projetos sejam de transição. Mas, ou se combate o problema com ações coerentes constantes — na esfera pessoal, corporativa e política — ou se cai no jogo cínico de lucrar com ambos os lados. O celular solar pode até carregar sob a luz solar, mas a reputação "verde" de Musk parece estar em volto em uma cortina de CO2.
O futuro do planeta exige mais que gadgets solares — exige líderes que não negociem a ecologia por conveniência.
Advogados especialista em Direito do Consumidor e Propriedade Intelectual