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Publicada em 28 de Janeiro de 2025 às 14:14

A polêmica do PIX e a repercussão negativa sobre o governo

Gustavo Wohlgemuth de Souza, administrador e empresário do ramo calçadista

Gustavo Wohlgemuth de Souza, administrador e empresário do ramo calçadista

Arquivo pessoal/Divulgação/JC
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Gustavo Wohlgemuth de Souza
Gustavo Wohlgemuth de Souza
A recente pesquisa da Genial/Quaest revelou que, pela primeira vez, o governo Lula enfrenta maior reprovação do que aprovação. Quando perguntados sobre qual foi a notícia mais negativa relacionada ao governo, 11% dos entrevistados – o maior percentual, disparado – apontaram a questão envolvendo a regulação do PIX como a principal razão. Em resposta, o governo atribuiu essa percepção negativa à disseminação de fake news, mas será que essa é toda a história?

Embora informações falsas, como a suposta criação de uma nova tributação sobre o PIX, tenham circulado, a principal preocupação da população vai além disso. O verdadeiro receio está no aumento da fiscalização das transações realizadas pelo PIX, o que, de fato, era o objetivo da medida. Muitos pequenos empreendedores e trabalhadores informais temem que essa fiscalização mais rigorosa revele transações não regularizadas, resultando em mais tributos a serem pagos – tributos que, embora devidos por lei, até então não estavam sendo cobrados de forma sistemática.

Essa falta de comunicação clara por parte do governo gerou uma repercussão extremamente negativa. Não era apenas o temor de uma “taxação direta do PIX”, mas o impacto concreto de um sistema que passaria a monitorar movimentações financeiras e identificar irregularidades fiscais. O resultado seria um aumento das despesas para o contribuinte, especialmente para pequenos empreendedores, que muitas vezes não emitem notas fiscais ou não declaram todas as movimentações no imposto de renda.

Diante da repercussão, o governo decidiu voltar atrás e revogar a medida. Porém, para muitos, esse recuo reforçou a sensação de que havia algo errado. Afinal, se a medida era legítima e necessária, por que o governo desistiu dela? A decisão aumentou a desconfiança, seja entre aqueles que acreditaram nas fake news, seja entre os que realmente temiam o aumento da fiscalização.

Ao tentar atribuir o impacto negativo exclusivamente à desinformação, o governo evita uma reflexão sobre sua responsabilidade na condução do tema. Transparência e diálogo com a população são essenciais para que iniciativas como essa sejam compreendidas e aceitas. Ignorar ou minimizar os receios legítimos da população não resolve o problema – pelo contrário, só reforça a percepção de desconfiança.

Esse episódio deve servir de aprendizado para o governo. Mais do que combater as fake news, é preciso garantir que as propostas e medidas tomadas sejam comunicadas de forma clara e aberta, especialmente quando afetam diretamente o bolso do contribuinte. Recuar diante de uma repercussão negativa pode gerar ainda mais dúvidas e enfraquecer a credibilidade das políticas públicas.

Administrador e empresário do ramo calçadista

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