Virgílio da Rocha Olsen
O Brasil vai duplicar sua população idosa em aproximadamente 20 anos. Enquanto países desenvolvidos, como a França, levaram mais de um século acumulando riqueza e organizando a sociedade para atender essa demanda, o Brasil chegou a números similares em uma velocidade muito maior e de maneira desordenada.
O aumento da expectativa de vida é uma conquista inegável, resultado de avanços na saúde, como a redução da mortalidade infantil, da taxa de fecundidade e o desenvolvimento de novas tecnologias que diminuíram a mortalidade por diversas patologias. No entanto, esse envelhecimento populacional acelerado traz desafios significativos.
Dentre eles, destaca-se o acúmulo de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como cardiovasculares, pulmonares e oncológicas. Essas condições, somadas às desigualdades sociais, à persistência de doenças infecciosas e às mortes por causas externas, geram uma tripla carga sobre o sistema de saúde brasileiro.
A complexidade do cenário é agravada pela transformação do núcleo familiar: com a redução do número de integrantes, muitas pessoas idosas que necessitam de cuidados já não podem contar com seus parentes, levando a uma "síndrome de insuficiência familiar" e à necessidade crescente de cuidadores profissionais.
Diante desse panorama, torna-se essencial pensar em medidas estruturais para promover a saúde individual e a coletiva no longo prazo. O envelhecimento, embora inexorável e heterogêneo, pode ser vivido de forma saudável e autônoma, desde que alguns pilares fundamentais sejam seguidos, como os descritos pelo Dr. Alexandre Kalache, médico epidemiologista especializado no estudo do envelhecimento.
Saúde
Estima-se que 80% das DCNT possam ser prevenidas com hábitos saudáveis, como alimentação equilibrada, controle do peso e prática regular de atividade física. A capacidade funcional atinge seu auge na juventude e começa a declinar com o envelhecimento. Assim, os cuidados na infância e na vida adulta são determinantes. Contudo, estudos indicam que a adoção de hábitos saudáveis, mesmo na terceira idade, traz benefícios significativos, incluindo a melhoria da qualidade de vida. Saúde mental e social, frequentemente subestimadas, também são cruciais para um envelhecimento bem-sucedido.
Aprendizagem ao longo da vida
Aprendizagem ao longo da vida
Manter-se ativo intelectualmente é vital para a saúde cognitiva, mental e social. Aprender continuamente, seja por meio da educação formal ou de atividades não laborais, fortalece o senso de propósito e a resiliência, elementos indispensáveis em qualquer fase da vida.
Participação social
Participação social
A aposentadoria não precisa ser vista como o fim de uma vida produtiva. Pelo contrário, a longevidade nos convida a transformar esse período em um momento de novas atividades e maior envolvimento com a família e a comunidade.
Segurança
Segurança
Este é um conceito amplo, que engloba proteção contra crimes, abandono e garantias financeiras para atender às necessidades básicas do idoso. Uma sociedade que protege e ampara essas pessoas constrói bases sólidas para o bem-estar coletivo.
O desafio do envelhecimento populacional no Brasil exige soluções que integrem esforços individuais e coletivos. Para que o aumento da expectativa de vida se traduza em anos vividos com saúde, autonomia e dignidade, é necessário investir em políticas públicas sustentáveis, educação em saúde e suporte às famílias.
O Brasil tem a oportunidade única de moldar um futuro em que envelhecer seja sinônimo de qualidade de vida e participação ativa na sociedade. Se agirmos hoje, podemos transformar um dos maiores desafios demográficos do país em uma força que impulsione o desenvolvimento social e econômico.
O desafio do envelhecimento populacional no Brasil exige soluções que integrem esforços individuais e coletivos. Para que o aumento da expectativa de vida se traduza em anos vividos com saúde, autonomia e dignidade, é necessário investir em políticas públicas sustentáveis, educação em saúde e suporte às famílias.
O Brasil tem a oportunidade única de moldar um futuro em que envelhecer seja sinônimo de qualidade de vida e participação ativa na sociedade. Se agirmos hoje, podemos transformar um dos maiores desafios demográficos do país em uma força que impulsione o desenvolvimento social e econômico.
Chefe do Serviço de Geriatria da Santa Casa de Porto Alegre