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Publicada em 20 de Janeiro de 2025 às 07:11

Autonomia e bem-estar: o desafio do envelhecimento

Virgílio da Rocha Olsen, chefe do Serviço de Geriatria da Santa Casa de Porto Alegre

Virgílio da Rocha Olsen, chefe do Serviço de Geriatria da Santa Casa de Porto Alegre

Arquivo pessoal/Divulgação/JC
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Virgílio da Rocha Olsen
Virgílio da Rocha Olsen
O Brasil vai duplicar sua população idosa em aproximadamente 20 anos. Enquanto países desenvolvidos, como a França, levaram mais de um século acumulando riqueza e organizando a sociedade para atender essa demanda, o Brasil chegou a números similares em uma velocidade muito maior e de maneira desordenada.

O aumento da expectativa de vida é uma conquista inegável, resultado de avanços na saúde, como a redução da mortalidade infantil, da taxa de fecundidade e o desenvolvimento de novas tecnologias que diminuíram a mortalidade por diversas patologias. No entanto, esse envelhecimento populacional acelerado traz desafios significativos.

Dentre eles, destaca-se o acúmulo de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como cardiovasculares, pulmonares e oncológicas. Essas condições, somadas às desigualdades sociais, à persistência de doenças infecciosas e às mortes por causas externas, geram uma tripla carga sobre o sistema de saúde brasileiro.

A complexidade do cenário é agravada pela transformação do núcleo familiar: com a redução do número de integrantes, muitas pessoas idosas que necessitam de cuidados já não podem contar com seus parentes, levando a uma "síndrome de insuficiência familiar" e à necessidade crescente de cuidadores profissionais.

Diante desse panorama, torna-se essencial pensar em medidas estruturais para promover a saúde individual e a coletiva no longo prazo. O envelhecimento, embora inexorável e heterogêneo, pode ser vivido de forma saudável e autônoma, desde que alguns pilares fundamentais sejam seguidos, como os descritos pelo Dr. Alexandre Kalache, médico epidemiologista especializado no estudo do envelhecimento.

Saúde
Estima-se que 80% das DCNT possam ser prevenidas com hábitos saudáveis, como alimentação equilibrada, controle do peso e prática regular de atividade física. A capacidade funcional atinge seu auge na juventude e começa a declinar com o envelhecimento. Assim, os cuidados na infância e na vida adulta são determinantes. Contudo, estudos indicam que a adoção de hábitos saudáveis, mesmo na terceira idade, traz benefícios significativos, incluindo a melhoria da qualidade de vida. Saúde mental e social, frequentemente subestimadas, também são cruciais para um envelhecimento bem-sucedido.

Aprendizagem ao longo da vida
Manter-se ativo intelectualmente é vital para a saúde cognitiva, mental e social. Aprender continuamente, seja por meio da educação formal ou de atividades não laborais, fortalece o senso de propósito e a resiliência, elementos indispensáveis em qualquer fase da vida.

Participação social
A aposentadoria não precisa ser vista como o fim de uma vida produtiva. Pelo contrário, a longevidade nos convida a transformar esse período em um momento de novas atividades e maior envolvimento com a família e a comunidade.

Segurança
Este é um conceito amplo, que engloba proteção contra crimes, abandono e garantias financeiras para atender às necessidades básicas do idoso. Uma sociedade que protege e ampara essas pessoas constrói bases sólidas para o bem-estar coletivo.

O desafio do envelhecimento populacional no Brasil exige soluções que integrem esforços individuais e coletivos. Para que o aumento da expectativa de vida se traduza em anos vividos com saúde, autonomia e dignidade, é necessário investir em políticas públicas sustentáveis, educação em saúde e suporte às famílias.

O Brasil tem a oportunidade única de moldar um futuro em que envelhecer seja sinônimo de qualidade de vida e participação ativa na sociedade. Se agirmos hoje, podemos transformar um dos maiores desafios demográficos do país em uma força que impulsione o desenvolvimento social e econômico.
Chefe do Serviço de Geriatria da Santa Casa de Porto Alegre

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