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Publicada em 03 de Setembro de 2024 às 17:05

Suicídio: um ato complexo

Carlos Felipe Almeida D’Oliveira, médico e presidente da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio

Carlos Felipe Almeida D’Oliveira, médico e presidente da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio

Abeps/Divulgação/JC
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Carlos Felipe Almeida D'Oliveira
Carlos Felipe Almeida D'Oliveira
É preocupante a tendência crescente de mortalidade por suicídio no Brasil e o aumento dos índices em populações específicas. Entre 2010 e 2021, as taxas de mortalidade subiram 42%, passando para 7,5 suicídios por 100 mil habitantes. Em 2021, mais de 15.500 pessoas morreram no Brasil em decorrência do suicídio, o que significa uma morte a cada 34 minutos, de acordo com o Ministério da Saúde. Os dados oficiais mostram aumento dos índices na população mais jovem e entre os povos indígenas.
A Região Sul aparece com a maior taxa de mortalidade por suicídio, sendo que o Rio Grande do Sul é o estado com o índice mais elevado (12,37/100 mil). Os dados publicados ainda não refletem as consequências da tragédia climática que causa imensos prejuízos emocionais e financeiros para os gaúchos, o que certamente terá reflexo nas estatísticas dos próximos anos.
A Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio (ABEPS) chama a atenção das autoridades federais para a urgência em reativar o Comitê Gestor responsável pela implantação da Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio. Criado em 2020, o comitê foi dissolvido há um ano e meio para designação de nova composição - após a mudança na gestão federal -, o que até agora não ocorreu.
Sem um comitê gestor funcionando, atrasamos ainda mais a implantação de ações planejadas e duradouras, embasadas cientificamente e com dotação orçamentária. A organização de Comitês locais, municipais ou regionais pode constituir experiências de organização na sociedade em torno de um problema que a impacta.
É importante a participação de associações diversas de profissionais, forças de segurança, instituições religiosas, associações de sobreviventes enlutados e todos que queiram participar. A prevenção do suicídio exige ações coordenadas em várias esferas. O Congresso Brasileiro de Prevenção do Suicídio debateu temas como as políticas públicas de prevenção, suicídio e envelhecimento, as novas tecnologias, prevenção no contexto escolar e o impacto nas populações indígenas.
Precisamos falar de prevenção do suicídio o ano todo, não apenas no mês de setembro. Sabemos que não é tarefa fácil e nenhuma sociedade, em tempo algum, conseguiu impedir todos os casos. Mas, se não todas, considerável porção de mortes por suicídio pode ser evitada.
Médico e presidente da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio (Abeps)
 

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