Leandro Olegário
Não é de hoje que o mensageiro leva a culpa pela mensagem. O que as demonstrações de repulsa ao trabalho dos telejornalistas trazem à tona é a relevância da televisão. É paradoxal que os mesmos porta-vozes das duvidosas praças públicas virtuais, as redes sociais, se incomodem tanto com a presença do jornalismo profissional na cobertura da tragédia sem precedentes que vivemos no Rio Grande do Sul. O que fica desse suco de infodemia com rodelas de desinformação é a importância que os veículos de comunicação possuem nas nossas rotinas, principalmente, nestes momentos de catástrofe. Em especial, com as múltiplas telas, o conteúdo audiovisual permanece com a sua centralidade, conquista adquirida a partir da segunda metade do século passado. Por enquanto, não existe melhor experiência para o consumo de diferentes gêneros e formatos, unidos por som e imagem, do que a televisão. Tem sido a partir dos noticiários e seus espaços nacionais que a dimensão do que enfrentamos aqui ganha o restante do país e o mundo.
A defesa do “ao vivo” como via exclusiva para a sobrevivência da televisão aberta na competição com outras plataformas se mostra insuficiente. O que a diferencia da produção atacarejo nas redes sociais é a reportagem. A gramática do telejornalismo transformada em histórias relevantes com três, quatro, cinco minutos. É isso que faz o cidadão prestar atenção, se emocionar, se questionar, se desconfortar – e, por consequência, participar, cobrar, desconfiar. Na profusão de entradas ao vivo, a televisão praticamente repete o rádio expandido, com som e imagem, e pouco avança no caráter interpretativo da realidade. Em todos os suportes, o patrimônio do jornalismo é a reportagem – que custa caro e demanda tempo. Porém, abrir mão dela significa fragilizar ainda mais uma sociedade por vezes infantilizada pelas redes sociais, que se contenta apenas com o gostar ou não gostar. A preocupação com o nosso futuro, a reconstrução do estado e a potência do povo gaúcho não cabem numa entrada ao vivo, mas cabem na reportagem.
II Vice-presidente da Associação Riograndense de Imprensa (ARI)