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Publicada em 16 de Maio de 2024 às 18:11

Crônica de uma "tragédia" anunciada

Fernando Ferrari Filho, professor titular do Departamento de Economia da Ufrgs

Fernando Ferrari Filho, professor titular do Departamento de Economia da Ufrgs

JONATHAN HECKLER/ARQUIVO/JC
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Fernando Ferrari Filho
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Há décadas, as organizações multilaterais e renomados cientistas e ambientalistas, entre outros, têm alertado sobre as prováveis consequências do aquecimento global, quais sejam: intempéries climáticas e, por conseguinte, catástrofes socioambientais e econômicas.
A despeito dos alertas, os acordos de proteção ambiental e sustentabilidade econômica firmados ao final das principais conferências internacionais sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - Estocolmo, Rio de Janeiro, Kyoto e Paris - foram negligenciados e, por conseguinte, as emissões de gases de efeito estufa não se reduziram como era esperado. Ademais, a maioria dos países, desenvolvidos e emergentes, investe parcos recursos em programas de prevenção ambiental, se comparados àqueles aportados para remediar os problemas socioambientais e econômicos decorrentes das referidas intempéries.
O Brasil está na mesma direção. Os últimos governos federais reduziram substancialmente as verbas destinadas para a preservação do meio ambiente, bem como no Congresso Nacional há várias propostas que, em prol da expansão das atividades agropecuária e agrícola e da "reconfiguração" urbana, visam desmontar o arcabouço institucional assegurado pela Constituição de 1988 para um meio ambiente ecologicamente equilibrado e compatível ao desenvolvimento econômico sustentável.
Nesse particular, o Rio Grande do Sul (RS) segue a mesma toada. Nos últimos governos, visando adequar as contas públicas ao Regime de Recuperação Fiscal, os investimentos em programas de proteção ambiental foram risíveis, os montantes destinados à defesa civil diminuíram e o Código Ambiental foi flexibilizado, tais como as regras de licenciamento e desmatamento, entre outros. Como decorrência, segundo dados da SSP-RS, o desmatamento ilegal no Estado cresceu cerca de 180% nos anos 2020 e o bioma Pampa perdeu parte substancial do seu território para a atividade agrícola.
Diante de tais atitudes de descaso, não é por acaso que o RS tem vivenciado situações tanto de severas estiagens, quanto de ciclones e enchentes, como a atual que colapsou socioambiental e economicamente o Estado. Esta crônica de uma "tragédia" anunciada, devido, principalmente, à miopia dos governantes que acreditam ser a austeridade fiscal a panaceia dos problemas econômico-fiscais do RS, fará com que a recuperação da infraestrutura - estradas, pontes, barreiras, residências e estabelecimentos comerciais, industriais e rurais - seja longa e, ironicamente, não possa prescindir da mão visível do Estado.
Professor titular do Departamento de Economia da Ufrgs
 

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