Haroldo Ferreira
Reindustrialização é a palavra de ordem. Não existe nenhum país no mundo que tenha obtido sucesso econômico e social sem investir na competitividade da indústria. Setor que mais gera empregos, a Indústria de Transformação pode ser considerada a mola propulsora de um país desenvolvido. No Brasil, há anos convivemos com um processo de desindustrialização acentuado por um custo produtivo crescente. Em momentos de crise, governos buscaram alternativas com medidas que aliviassem a atividade industrial.
Uma das delas foi a desoneração da folha de pagamentos, que desde final de 2011 permite que a indústria dos segmentos que mais empregam substituam o pagamento de 20% sobre a folha de salários por 1% a 4,5% da receita bruta. Levantamento realizado pelas entidades setoriais que representam os 17 setores hoje abrangidos pela medida apontam que, desde 2018, foram preservados mais de 676 mil empregos. Já os salários médios nesses setores tiveram um incremento de mais de R$ 400,00 em função da desoneração (de R$ 2.033 para 2.430).
Por isso, o veto presidencial à continuidade da desoneração, aprovada com ampla maioria no Congresso Nacional, causou espanto não somente para a Abicalçados, mas para a sociedade brasileira. Sempre frisamos, em encontros com autoridades no Congresso Nacional e no Planalto, a importância da continuidade da política, o que parecia estar em entendimento em todas as casas. Afinal, a desoneração da folha de pagamentos reduz o custo direto do trabalho formal e estimula contratações e formalizações, uma relação lógica que fundamenta posicionamentos públicos não somente de entidades patronais, mas também das três principais centrais sindicais de trabalhadores do Brasil. Além de afastar o risco de fechamento de milhares de postos de trabalho, a desoneração segura aumento de preços de diversos produtos e serviços.
Trazendo especificamente para o setor calçadista, levantamento realizado pela Inteligência de Mercado da Abicalçados aponta que o fim da política irá acarretar em uma carga tributária extra de R$ 720 milhões por ano. Já o impacto no emprego será de 20 mil postos, quase 10% da mão de obra total empregada na atividade (296 mil postos).
Presidente-executivo da Abicalçados