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Opinião

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Artigo

- Publicada em 17 de Maio de 2023 às 20:13

A força da criação

Barbara E. Neubarth
Barbara E. Neubarth
Esta coisa que pulsa, exposição à mostra no Museu da Ufrgs, apresenta a trajetória da Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro, equipamento de reabilitação psicossocial da rede de saúde mental do Sistema Único de Saúde (SUS). Fundada em 1990, antes da promulgação da Lei Estadual da Reforma Psiquiátrica no Rio Grande do Sul (Lei nº 9.716/92), tem como eixos: a arte como criação e produção de vida; o trabalho em clima de confiança mútua, amor e respeito às diferenças; e a utilização da expressão plástica no resgate da subjetividade.
Neste sentido, as práticas artísticas — como alternativa terapêutica em saúde mental — têm sido decisivas para consolidar uma inclusão possível para sujeitos portadores de problemas psiquiátricos diversos. Favorecendo trocas, estabelecendo vínculos e colocando desafios diante de materiais e linguagens artísticas, ali funcionam, além da produção de desenho, pintura, colagem e modelagem, a Oficina de Escrita e as Bordadeiras de São Pedro. E, assim, pela força do imaginário, na Oficina, a produção artística tem um caráter de resistência e testemunho — é a clínica dando passagem à comunicação através do ato criativo e de uma possível interlocução com o social.
Desde seu início, a Oficina estabeleceu diálogo com universidades, sendo a parceria com a Ufrgs a mais profícua e que perdura através do Núcleo Transdisciplinar Arte e Loucura Tania Mara Galli Fonseca (NuTAL) e, mais recentemente, do curso de Museologia. O recém-criado Museu Estadual Oficina de Criatividade (MEOC-HPSP) forma, com o Museu de Imagens do Inconsciente (RJ), o Museu de Arte Contemporânea Osório César (SP) e o Museu Bispo do Rosário (RJ), um coletivo de grande importância para o país na temática Arte e Loucura.
Os 250 mil documentos — integrantes do acervo e testemunhos da prática dos frequentadores da Oficina — se oferecem como possibilidade de sensibilizar a sociedade por meio de um contradiscurso em relação ao que se pensa sobre loucura e louco. A energia produzida pela força da criação tem promovido fecundos encontros. Marcas estão lá como gestos de resistência, reservatórios de singularidades e multiplicidades. Assim, ao fazer um desenho, seja para guardar, mostrar ou oferecer, estes sujeitos se inscrevem na história para além do diagnóstico nosológico ou do número de registro no prontuário psiquiátrico. Cabe a nós testemunhar a vida que ainda pulsa, como um modo de não morrer à míngua.
Psicóloga e fundadora da Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro