O novo ministro da Aviação Civil, um gaúcho experimentado na vida partidária e pública, Eliseu Padilha (PMDB), deixou com o governador José Ivo Sartori (PMDB) duas propostas sobre o Aeroporto Internacional Salgado Filho e a construção de um novo, na Região Metropolitana. Na teoria, tudo bem. Na prática, é o retorno de mais um debate que vem se arrastando há anos. Aliás, como quase todas as obras públicas no Brasil e no Rio Grande do Sul. Fala-se demais e se faz pouco, concretamente, sem trocadilho com o piso eventual da ampliação da pista do Salgado Filho.
Conhecido, em tempos pretéritos, como Aeródromo de São João, utilizado, inicialmente, pelos aviões da Brigada Militar. O nome adveio do bairro em que se localizava, e estando lá, até hoje, o pequeníssimo, para os padrões atuais, terminal de embarque e desembarque de passageiros. Foi substituído pelo atual terminal, cujo nome homenageia o primeiro ministro da Aeronáutica, o político porto-alegrense Joaquim Pedro Salgado Filho, entre 1941 e 1945. Foi também ministro do Trabalho, deputado e senador pelo PTB, e grande incentivador da aviação brasileira. Morreu, ironicamente, em acidente aéreo quando era candidato ao governo gaúcho e viajava a São Borja para se encontrar com Getulio Vargas.
No entanto, é irritante a morosidade com que assuntos do interesse público andam no Brasil. O apego ao bacharelismo, aos parágrafos, às entrelinhas, às licitações, aos recursos, às suspeitas e, finalmente, ao andamento sempre moroso das obras são hábitos arraigados em nosso País. Por isso que não surpreende quando obras mais do que necessárias passam, sistematicamente, por pelo menos três fases. A primeira é aquela quando todos os técnicos, usuários e participantes da questão dizem que a obra, é necessária, com pedidos de estudos. Em um segundo momento, com licenças as mais diversas. Vários órgãos públicos são ouvidos, e cada um tem o seu tempo, o seu ritmo e a sua própria política. Quando todos se entendem, vem a parte da execução, com editais, pormenores, projetos e mais análises.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lembrou que se Juscelino Kubitscheck lançasse hoje a ideia de Brasília, com certeza não teria a licença ambiental para fazer um prosaico campo de pouso para que os lendários Douglas 3, os DC-3, pudessem aterrissar no Planalto Central. Há pelo menos 15 anos, todo o Rio Grande do Sul sabe que aumentar a pista do Salgado Filho é um fator de impulsão da economia gaúcha, um Estado exportador, e que, com 3.200 à disposição para que os cargueiros pudessem correr, sairiam daqui com peso total e direto para os Estados Unidos da América e as principais capitais da Europa.
A esperança, mais uma vez, está com os homens públicos Eliseu Padilha e José Ivo Sartori. Considerado um dos mais próximos da região central urbana nas capitais, o nosso aeroporto precisa ser concluído e ter aumentada a sua pista. Ou não veremos os aviões cargueiros DC-10 ou Boeing 747 decolando do aeroporto levando produtos gaúchos que podem, e fazem, a diferença entre o atraso e o progresso, os recursos ou a falta deles, os empregos ou a falta de trabalho no Rio Grande do Sul. É assim que caminham as obras públicas no Brasil.