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Opinião

Editorial

- Publicada em 28 de Dezembro de 2012 às 00:00

Primavera Árabe virou inverno político


Jornal do Comércio
O Cairo é uma grande cidade. É o coração do Egito, ao lado de Alexandria. Os cairotas são orgulhosos do passado milenar da sua nação, desde os faraós. Muito antes de Cristo, lá estava a cidade, e o Egito é considerado uma dádiva do Nilo. Com suas cheias periódicas, o humus que o rio deixa alguns quilômetros adentro no entorno das suas margens fertiliza o solo e ali, em se plantando, tudo dá, apesar da região desértica, mitigada pela gigante represa de Aswan. Mas, ingleses e franceses expandiram seus impérios coloniais para o Norte da África. Incutiram usos e costumes fora dos padrões culturais e colocaram no poder títeres, como no Egito, na Argélia e na Tunísia. Até que os povos tiranizados se revoltaram e conseguiram a independência. Porém, continuou a tendência às ditaduras disfarçadas, passando de pai para filho a presidência, caso da Síria, ou com governantes que venciam eleições adredemente organizadas para que este ou aquele nome vencesse, caso do Egito. Há dois anos eclodiu a Primavera Árabe. Mas, nem tudo foi resolvido. Não como seria o desejável.
O Cairo é uma grande cidade. É o coração do Egito, ao lado de Alexandria. Os cairotas são orgulhosos do passado milenar da sua nação, desde os faraós. Muito antes de Cristo, lá estava a cidade, e o Egito é considerado uma dádiva do Nilo. Com suas cheias periódicas, o humus que o rio deixa alguns quilômetros adentro no entorno das suas margens fertiliza o solo e ali, em se plantando, tudo dá, apesar da região desértica, mitigada pela gigante represa de Aswan. Mas, ingleses e franceses expandiram seus impérios coloniais para o Norte da África. Incutiram usos e costumes fora dos padrões culturais e colocaram no poder títeres, como no Egito, na Argélia e na Tunísia. Até que os povos tiranizados se revoltaram e conseguiram a independência. Porém, continuou a tendência às ditaduras disfarçadas, passando de pai para filho a presidência, caso da Síria, ou com governantes que venciam eleições adredemente organizadas para que este ou aquele nome vencesse, caso do Egito. Há dois anos eclodiu a Primavera Árabe. Mas, nem tudo foi resolvido. Não como seria o desejável.
O entusiasmo e a esperança deram lugar à decepção na Tunísia, Egito e Líbia, com impopulares transições políticas, problemas econômicos e ameaças de extremistas. Foi em 17 de dezembro de 2010 que Mohamed Bouazizi, um jovem vendedor desesperado, explodiu a si mesmo na cidade tunisina de Sidi Bouzid, desencadeando a revolta geral. A comemoração deste evento instalou a polêmica. Uma parte da comissão organizadora renunciou, denunciando o Ennahda (líder) islâmico no poder, que controlou as celebrações. Além disso, a oposição aproveitou a cerimônia para protestar contra o governo, que acusa de ser incapaz de colocar o país no rumo da democracia e do progresso.
Muitos dos habitantes de Túnis acreditam que nada mudou desde 2010, especialmente o alto desemprego. “O que você está falando de revolução? Nada mudou aqui”, protestou Ezzedine Nasri, um caixeiro-viajante cuja esposa não consegue trabalho, apesar de ter um diploma universitário. O partido no governo venceu as eleições em outubro 2011, mas não endireitou a economia e é acusado de deixar as mãos livres para os salafistas, que multiplicam as operações. Piorando, a agência de classificação Fitch rebaixou a nota da dívida de longo prazo da Tunísia, de “BBB-” para “BB+”, ou seja, o grau especulativo. Quanto ao Egito, está dividido desde que o presidente islâmico Mohamed Mursi tentou se atribuir poderes absolutos. Pressionado, Mursi desistiu, mas manteve referendo sobre a Constituição elaborada por islâmicos e desafiado pela oposição. Venceu, com 63% dos votos. Protestos contra as intenções do presidente foram violentos, agravando a tensão no país. Na Líbia, as autoridades conseguiram realizar eleições gerais em julho e a produção de petróleo foi restaurada, mas ameaças de insegurança e extremistas prevalecem. Os oito meses do conflito armado que acabaram com o ditador Muammar Kaddafi deixaram sequelas: milícias armadas, tráfico de armas e a emergência de ameaças terroristas, ilustradas pelo 11 de setembro, que matou o embaixador Christopher Stevens. A rigor, a Primavera Árabe está mais para inverno. Até agora, pelo menos.
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