As operações da Polícia Federal recebem nomes interessantes. Mas os resultados, embora atinjam os objetivos, entristecem. É muita corrupção. Dizia Carlos Lacerda que, “só porque eu vejo antes, dizem que enxergo demais”. Os esclarecidos desse “cadáver obediente”, como o jornalista Assis Chateaubriand denominava o Brasil, não reagem como deveriam. Na Operação Monte Carlo, os nomes acusados têm genéricos de Norte a Sul. A Receita Federal fez a Operação Marcação Cerrada. São 1.500 contribuintes que enviaram declarações suspeitas à pasta, prejuízo superior a R$ 30 milhões com despesas fictícias. Vários contribuintes que estariam se beneficiando das fraudes são servidores públicos da União e do Distrito Federal. Pois Getúlio Vargas suicidou-se na manhã de 24 de agosto de 1954. Sofria campanha de boa parte da imprensa. Um dia antes recebeu ultimato dos brigadeiros da “República do Galeão”. Era o fim do caudilho que, em 1930, pensara grande e alto. Os jornais bradavam que “corria um mar de lama por sob o Catete”. Hoje, a corrupção entre os anos 1930 e 1960 parece ação de “mãos grandes”.
Para vigaristas, só confissão e a pena legal. O contágio dos jovens com a indiferença pelas vigarices é o maior perigo. Os meliantes de terno e gravata estão de tal maneira audazes que nada os impede de surrupiar o erário. A corrupção que está institucionalizada em alguns nichos públicos e privados do Brasil indica que proibições seculares não pesam na consciência dos modernos transgressores. Nenhum confessor perguntará quantas vezes alguém sonegou impostos. Ou se usou de sua posição pública para praticar nepotismo, se lavou dinheiro ou se tem ido à Suíça para abrir contas secretas. Mas como criticar este mar de lama que corre sob os pilares dos Poderes em Brasília quando a chefe da Nação tem 77% de popularidade/apoio e é considerada – com razão – uma “faxineira” ética? A questão é mais ampla do que demitir auxiliares diretos, mesmo que isso seja importante.
Temos que aprimorar o amor pela educação, a organização e o trabalho, para sermos competitivos e produtivos, algo que não acontece há 30 anos. Pelo contrário, somos menos produtivos hoje do que em 1980. E nem Dante poderia prever que algum dia fossem criados tantos paraísos fiscais, fraudes em contratos públicos ou aplicações financeiras que constituem pecado mortal. Escroques julgam-se absolvidos pelo esquecimento, pela burocracia e pelos meandros dos antigos e prolixos códigos penais do País. Quando estão no poder, os políticos são cercados por todos os lados. Quando chegam à velhice e ao afastamento do poder, a maioria percebe que não tem amigos. Ou são poucos. Como na vida pública as amizades são circunstanciais, principalmente em ano de eleições, elas acabam quando findam as circunstâncias que as criaram. Daí que não existe nada mais triste do que a volta a Terra por quem habitou o Olimpo. Os apartados do poder tornam-se reféns de sua própria história. Repetem-na, burilam-na e ficam incomodativos. O ostracismo a que serão condenados os corruptos contumazes, pelo menos espera-se, é a punição divina e dos homens imposta a eles e, não esqueçamos jamais, aos corruptores.