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Opinião

artigo

- Publicada em 26 de Dezembro de 2011 às 00:00

O pianista Roberto Szidon


Jornal do Comércio
Nos idos de 1941, duas famílias foram morar em um recém-inaugurado prédio de apartamentos na Rua da Praia. Uma delas, uma família brasileira, católica, composta de cinco pessoas. A outra, húngara de origem judaica, formada por quatro pessoas. Edifício pequeno, apenas cinco andares, a convivência se tornava fácil pela proximidade. E foi assim que os filhos homens da família judia fizeram amizade com os da família católica. Os judeus eram os Szidon; os católicos, os Lontra. Os dois filhos menores das duas famílias nasceram no mesmo ano do prédio, 1941. Roberto em outubro e eu, em dezembro. Quando ainda crianças, brincávamos de tudo aquilo que era comum na época: bola de gude, pião, soldadinho de chumbo etc... Quando fui para o Colégio Nossa Senhora das Dores, cujo prédio principal ficava na Rua da Praia, defronte ao nosso edifício, o Roberto ficou sabendo, decidiu ir também para o mesmo lugar, embora fosse (e ainda é) um colégio de orientação lassalista, católico. Não houve jeito de tirar a ideia da cabeça dele. Por amizade, insistiu e entrou no colégio.
Nos idos de 1941, duas famílias foram morar em um recém-inaugurado prédio de apartamentos na Rua da Praia. Uma delas, uma família brasileira, católica, composta de cinco pessoas. A outra, húngara de origem judaica, formada por quatro pessoas. Edifício pequeno, apenas cinco andares, a convivência se tornava fácil pela proximidade. E foi assim que os filhos homens da família judia fizeram amizade com os da família católica. Os judeus eram os Szidon; os católicos, os Lontra. Os dois filhos menores das duas famílias nasceram no mesmo ano do prédio, 1941. Roberto em outubro e eu, em dezembro. Quando ainda crianças, brincávamos de tudo aquilo que era comum na época: bola de gude, pião, soldadinho de chumbo etc... Quando fui para o Colégio Nossa Senhora das Dores, cujo prédio principal ficava na Rua da Praia, defronte ao nosso edifício, o Roberto ficou sabendo, decidiu ir também para o mesmo lugar, embora fosse (e ainda é) um colégio de orientação lassalista, católico. Não houve jeito de tirar a ideia da cabeça dele. Por amizade, insistiu e entrou no colégio.
Roberto foi sempre um aluno exemplar, um dos primeiros da classe, inclusive, para espanto de todos, primeiro lugar em religião, com direito a medalha e menção no Anuário do colégio! Seu irmão, João Pedro, fora destinado pelos pais a tentar a sorte no piano. Todas as manhãs, ainda nos nossos cinco anos, Roberto e eu brincávamos com soldadinhos e carrinhos de "galalite", enquanto o irmão batucava as teclas de um piano para o qual ele não tinha o menor pendor. O interessante é que o irmão ficava fazendo aqueles tediosos exercícios e, de vez em quando, o Roberto dizia "está errado", sem mesmo levantar a cabeça do brinquedo. Corrigia o irmão, sem jamais ter sentado num piano. O professor sentiu que perdia tempo com o aluno ao lado e que o prodígio estava sentado mais adiante. Falou com a mãe dos dois, dona Olga, e conseguiu convencê-la de que o pianista era o Roberto, e não o seu irmão. Roberto Szidon deu o seu primeiro recital no Theatro São Pedro, aos 8 anos e, a partir daí, não parou mais. Em atenção ao desejo familiar ingressou na Faculdade de Medicina da Ufrgs. Mas o piano era a sua paixão. Lá pelo quinto ano de Medicina, abandonou a carreira médica e se mandou para a Alemanha, contratado da Deutsche Grammophon. Eu o vi umas duas vezes, se muito, depois de sua partida para a Europa. Semana passada recebi a notícia de que Roberto Szidon, meu velho companheiro dos tempos de criança, faleceu na Alemanha, aos 70 anos de idade. Nada pode ser mais triste do que a morte de alguém que foi nosso amigo em tempos fáceis da infância. Éramos felizes e sabíamos.
Advogado
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