O economista Joseph Stiglitz, vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2001, alertou que uma onda de austeridade está se estendendo pela Europa e pode provocar uma nova recessão. “Conforme muitos países reduzem seus gastos prematuramente, a demanda agregada global vai diminuir e o crescimento vai se desacelerar - até, talvez, levando a uma recessão dupla”, segundo o economista, que foi consultor econômico do ex-presidente Bill Clinton. “A América pode ter causado a recessão global, mas a Europa está respondendo agora na mesma moeda”, disse. Para ele, a Espanha pode estar entrando no tipo de espiral da morte que afligiu a Argentina há algumas décadas. No entanto, o valor do comércio global de bens cresceu sensivelmente nos primeiros seis meses de 2010, dando prosseguimento à tendência de forte aumento registrado no primeiro trimestre do ano. Segundo a Organização Mundial de Comércio (OMC), o fluxo comercial medido em dólares subiu 25% entre janeiro e junho deste ano em relação ao primeiro semestre de 2009. A OMC informou que o crescimento das exportações foi particularmente forte na China (23%) e no Brasil (27%) no período de abril a junho sobre o trimestre anterior. Na mesma base de comparação, as exportações dos Estados Unidos (EUA) cresceram 6%.
A recuperação da economia dos EUA está extremamente modesta e o seu ritmo é menor do que o esperado. Assim mesmo, poucos acreditam em uma recessão de duplo mergulho, considerando algo improvável, embora esse risco seja maior do que há seis meses. A taxa de desemprego de agosto nos EUA foi de 9,5%. O Reino Unido enfrenta risco de um novo período recessivo, sendo insensato descartar a possibilidade de um duplo mergulho. Então, fazer uma análise consistente e com boa margem de acerto sobre a recuperação, ou não, da economia mundial é difícil. A cada dia surgem dados conflitantes, e muitos dos melhores analistas internacionais mudam de opinião como a biruta de pequenos aeroclubes do anterior, geralmente com muitos furos. Ora, para o Brasil a piora no cenário global exercerá impacto sobre as exportações nacionais. A combinação de evidências de desaceleração nos Estados Unidos e na China e indicações de perda de velocidade aguda da economia do Japão mostram que não há muitos condutores para o crescimento mundial em direção ao próximo ano. Por isso aumentaram os temores de que uma paralisação da economia norte-americana esteja bem próxima.
O fato é que se o consumidor americano não está gastando agressivamente, certamente há um impacto sobre as exportações em todo o mundo. Este quadro de desaceleração nos EUA e principalmente na China terá reflexo sobre as exportações do Brasil. Simultaneamente, a aplicação de 4% como Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nos investimentos estrangeiros de renda fixa não estancará a enxurrada de dólares. Afinal, temos os juros reais mais altos do mundo, enquanto no Japão estão em quase zero. Vamos combater o déficit fiscal do País, promover as exportações e segurar o câmbio, ainda que a política cambial não possa se transformar em uma guerra. A China vem engambelando os EUA e o resto do mundo há uma década, desvalorizando o yuan artificialmente e conquistando mais e mais mercados.