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Opinião

Artigo

- Publicada em 24 de Maio de 2010 às 00:00

Homenagens póstumas


Jornal do Comércio
 Acho que pecam por hipocrisia certas homenagens póstumas que instituições resolvem prestar a um falecido membro, por isto ou por aquilo. Com todo respeito. Procurando na Wikipédia, me deparei com uma distinção interessante: para a pessoa em vida é prêmio, após a morte é homenagem. Dentro dessa distinção singela, até que parece bom. O que se mostra patético é quando a homenagem esconde uma “mea culpa” por injustiça durante a vida da criatura incensada depois de já ter partido para o lado de lá. Seria o caso de perguntar por que não foram atentos e corretos enquanto o suposto homenageado andava por aqui, suando a camiseta, cumprindo obrigações e encarando o dia-a-dia na planície. Acaso se tornou mais distinto e importante por haver batido as botas, como irá ocorrer com todo mundo? Sei não, mas homenagem assim, na melhor das hipóteses, tem cara de velório. O sentimento de culpa é mesmo um inferno: quantas vezes somos mal-agradecidos, negligentes, egoístas, competitivos? Portanto, salvo quando o defunto mereça realmente um resgate histórico de bom tamanho, deixem-no quieto. Afinal, muita gente de grandes méritos morreu sem estardalhaço e jamais foi objeto de homenagem. Por outro lado, o reconhecimento solene é, às vezes, tão discreto e tão mesquinho, que melhor seria impedi-lo. Não bastasse a desatenção em vida, o defunto é ainda desajeitadamente pranteado, só para que alguns se sintam mais confortáveis.
 Acho que pecam por hipocrisia certas homenagens póstumas que instituições resolvem prestar a um falecido membro, por isto ou por aquilo. Com todo respeito. Procurando na Wikipédia, me deparei com uma distinção interessante: para a pessoa em vida é prêmio, após a morte é homenagem. Dentro dessa distinção singela, até que parece bom. O que se mostra patético é quando a homenagem esconde uma “mea culpa” por injustiça durante a vida da criatura incensada depois de já ter partido para o lado de lá. Seria o caso de perguntar por que não foram atentos e corretos enquanto o suposto homenageado andava por aqui, suando a camiseta, cumprindo obrigações e encarando o dia-a-dia na planície. Acaso se tornou mais distinto e importante por haver batido as botas, como irá ocorrer com todo mundo? Sei não, mas homenagem assim, na melhor das hipóteses, tem cara de velório. O sentimento de culpa é mesmo um inferno: quantas vezes somos mal-agradecidos, negligentes, egoístas, competitivos? Portanto, salvo quando o defunto mereça realmente um resgate histórico de bom tamanho, deixem-no quieto. Afinal, muita gente de grandes méritos morreu sem estardalhaço e jamais foi objeto de homenagem. Por outro lado, o reconhecimento solene é, às vezes, tão discreto e tão mesquinho, que melhor seria impedi-lo. Não bastasse a desatenção em vida, o defunto é ainda desajeitadamente pranteado, só para que alguns se sintam mais confortáveis.
Vou ser bem franco, quando eu morrer, me poupem desse suplício. Se quiserem me homenagear, me conferir algum prêmio, me distinguir com qualquer mimo, aproveitem meu pleno vigor físico. Depois de morto, não me venham com salamaleques e rituais de província. Não vou sentir qualquer gratidão. Não vou sentir nada. Se os familiares quiserem, tudo bem, a vida continua para quem fica, mas, se sorrir pudesse, vocês nem imaginam minha cara de deboche. E se apressem, porque não tenho a vida inteira para esse prêmio que vocês não vão me dar.

Advogado

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