À exceção da China e dos Estados Unidos e com menor convicção da Índia, as manifestações acerca dos resultados da COP-15 podem ser resumidas em uma palavra: fracasso. Na verdade, resultou no já esperado, considerando-se o teor das conversações que anteciparam a realização da Conferência de Copenhague. Assim como em Quioto, em Copenhague pesou muito a posição dos Estados Unidos para chegar a esse resultado pífio, não se diferenciando em muito as manifestações de Barack Obama em relação a este com as de George Bush em relação àquele. Ocorre que, tal qual o Império Romano em que Roma locuta, causa finita est (Roma falou, a causa está encerrada), os Estados Unidos não disputam com nenhum outro país o poderio mundial; têm poder de veto em uma ONU enfraquecida e decadente, e pela força ou pelo boicote se impõem ao mundo. À exceção, talvez, da China, que vem despontando meteoricamente, consumindo na mesma proporção os seus recursos naturais e que possui cerca de 1/5 da população mundial (cerca de 1,4 bilhão de habitantes em um universo de 6,7 bilhões).
As esperanças de consolidação de um acordo estão sendo transferidas para a COP-16, que acontecerá em fins de 2010 na cidade do México. Pela disposição presenciada, o acordo ficará mesmo para depois de 2020, quando da consolidação de tendências percebidas e anunciadas pelos cientistas, já então com impactos significativos irreversíveis. Até lá, com certeza a ciranda continuará com presidentes, primeiros-ministros e ministros singrando os céus do planeta com ares de importância e comprovada impotência. É certo que não é fácil chegar a posições confluentes em um universo tão amplo de interesses e culturas diferentes. Contudo, se os milhares de cientistas espalhados pelo mundo todo merecerem mínimo crédito, é preciso ouvi-los e ser previdentes. Prevenir é sempre melhor. E prevenir implica em mudar paradigmas de uma civilização consumista e predatória, sobretudo - parece contraditório, mas não é - nos países de maior poderio econômico e científico. Ressalta-se que a conta será paga indistintamente por todos, ricos, pobres e miseráveis, embora esses últimos não tenham usufruído minimamente sequer das benesses passageiras de modelo de civilização autodestrutivo. De jogo de cena em jogo de cena a peça acabará, e o final poderá não ser tão feliz.
Ex-secretário de Meio Ambiente e ex-presidente da Fepam