O Brasil possui, hoje, 64 parques tecnológicos em operação, reunindo 2.706 empresas, de acordo com o Ministério da Ciência e Tecnologia. Deles, 15 estão localizados no Rio Grande do Sul. A este número, em breve, deverá se somar uma iniciativa inovadora: o Parque Tecnológico Binacional de Santana de Livramento, que teve seu projeto pré-aprovado para receber uma verba de cerca de US$ 6 milhões do Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul (Focem), com retorno de pelo menos 15% do montante em contrapartidas.
A expectativa é de que o projeto final seja redigido até setembro deste ano e apresentado ao Mercosul em uma reunião prevista para dezembro. A partir de então, ele poderá ser aprovado, com expectativa de que as obras iniciem já em 2026 com previsão de dois a três anos para serem finalizadas. A instalação se dará em uma área de 9 mil metros quadrados doada pela prefeitura de Santana do Livramento, a cerca de 200 metros da fronteira com a cidade de Rivera, no Uruguai.
A gestão do parque será compartilhada pela cooperação com o Parque Tecnológico Regional Norte, que está se estabelecendo em Rivera. "A nossa perspectiva sempre foi de cooperação binacional e de integrar as ações e as áreas de atuação desse parque que vai se estabelecer aqui com as ações e áreas de atuação do parque que vai se estabelecer em Rivera. É como se os dois parques fossem parte de um mesmo parque ou polo tecnológico", explica o professor da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), Rafael Schmidt, que coordena a implementação do Parque.
Além do investimento em ciência, tecnologia e inovação proporcionados pelo projeto, o parque deverá auxiliar na geração de empregos da região, contribuindo para manter a população jovem no município. A expectativa é de que sejam criados 250 postos de trabalho nos primeiros cinco anos de funcionamento.
"Formamos uma mão de obra tecnicamente muito qualificada, mas não temos conseguido, no Interior, nessas regiões aqui, gerar oportunidades de trabalho, mesmo de empreendedorismo, para esse pessoal que se forma. Temos a missão do ponto de vista acadêmico de ajudar com um projeto de desenvolvimento para a região, mas, também, do ponto de vista dos estudantes, temos a responsabilidade de criar condições para que pelo menos parte das pessoas que se formam encontrem condições de permanecer aqui com empregos que remuneram e gerem oportunidades de desenvolvimento no nível da sua qualificação", explica Schmidt.
Hoje, a Região Sul é a única entre as macrorregiões definidas pelo Mapa Econômico do RS com uma queda no saldo de empregos entre 2023 e 2024, com uma variação de -14,5%, conforme o Cadastro Geral de Empregos e Desempregados (Caged). Além disso, registrou uma queda populacional no Censo de 2022 de 13,9% em relação ao último levantamento.
Outro diferencial do projeto é a exploração da fronteira como uma oportunidade para as empresas que buscarem se estabelecer no parque. A partir disso, é esperada a captação de R$ 15 milhões em investimentos privados nos primeiros 10 anos de funcionamento da estrutura. "Nossa perspectiva é justamente oferecer um serviço que pode auxiliar as empresas não só a se estabelecerem no Brasil, mas também para que possam se internacionalizar. E as do lado de Riveira também a abrirem as portas para o mercado brasileiro", acrescenta Schmidt.
Instituições governamentais auxiliam com aportes e apoio técnico
Enquanto a prefeitura de Santana do Livramento doou o terreno para a instalação do Parque Tecnológico Binacional e anunciou o aporte de R$ 1 milhão para contribuir com a contrapartida exigida pelo Focem, outras instituições públicas têm atuado junto ao projeto ou estão sendo prospectadas. "Se cria um círculo virtuoso de inovação, de empreendedorismo, de atração de investimentos também", celebra Schmidt.
É o caso do governo do Estado, que recebeu uma proposta da Unipampa para acessar recursos do Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs), desenvolvendo um Centro de Inteligência Climática. A iniciativa foi apresentada dentro do eixo de resiliência climática do Plano.
"Estamos tendo um acolhimento muito bom na Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia do Estado para a elaboração do projeto do Centro de Inteligência Climática, que vai ficar dentro do Parque Tecnológico. A gente sabe que o problema climático, que deu razão à existência do Funrigs, é um problema do presente e do futuro. Como o Rio Grande do Sul vai se posicionar em relação a isso? Através da inovação e da geração de conhecimento para que a nossa sociedade civil possa se adaptar e buscar ter resiliência", explica Schmidt.
Por outro lado, há instituições públicas que estão auxiliando do ponto de vista técnico do projeto. O Ministério do Planejamento, por exemplo, foi o responsável por encaminhar o projeto ao Focem e por estabelecer uma parceria com o Fundo Financeiro para Desenvolvimento da Bacia do Prata (Fonplata), que está contratando o anteprojeto do Parque e realizando reuniões periódicas de orientações para a construção do texto final que será apresentado ao Mercosul. O órgão também estabeleceu parcerias com o Ministério do Desenvolvimento Regional para a execução do projeto, que conta também com apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Universidades uruguaias e brasileiras atuam em conjunto
O embrião para o projeto do Parque Tecnológico Binacional de Santana do Livramento iniciou em 2017, quando foi criado um grupo de trabalho envolvendo agentes públicos e representantes de instituições de ensino superior. Nele, foram reunidas universidades uruguaias, como a Universidad Tecnológica del Uruguay (Utec), e brasileiras, incluindo, além da Unipampa, escolhida entre os membros para apresentar o projeto ao Mercosul, o Instituto Federal Sul-Rio-Grandense (IFSul) e a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs).
IFRS, Uergs e Unipampa são algumas das instituições com campi instalados nas regiões da Campanha, Fronteira Oeste e Centro-Sul. Além da iniciativa binacional na qual estão envolvidas, elas possuem projetos próprios com os quais promovem a ciência, a tecnologia e a inovação — como o Parque Científico e Tecnológico do Pampa (Tecnopampa), da Unipampa.
Na Região Sul, outras instituições se destacam. A Universidade Federal de Pelotas (UFPel), desenvolve diversos projetos no Tecnosul – Pelotas Parque Tecnológico e a Universidade Federal do Rio Grande (Furg) tem uma forte atuação no Oceantec – Parque Científico e Tecnológico.
Em toda a macrorregião, universidades, e centros universitários contribuem para a formação profissional da população. Entre elas, estão instituições comunitárias, como o Centro Universitário da Região da Campanha (Urcamp) e a Universidade Católica de Pelotas (Ucpel), e particulares, como a Anhanguera.