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Publicada em 17 de Agosto de 2025 às 00:25

O Vale dos Vinhedos também é dos sucos

Diretor industrial da Aurora, Roberto Lazzarini

Diretor industrial da Aurora, Roberto Lazzarini

/Anderson Pagani/Divulgação/JC
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Eduardo Torres
Eduardo Torres Repórter
A imagem da produção de uvas na Serra Gaúcha traduz-se no mercado pelos vinhos. No entanto, é a qualidade dos sucos integrais produzidos na região que garante a maior fatia das vendas e da produção nas indústrias da região. A liderança nacional de sucos integrais é da Cooperativa Vinícola Aurora, que tem 65% da sua produção e das vendas justamente nos sucos. O produto da cooperativa de Bento Gonçalves representa 30% de todo o suco integral brasileiro. E este setor merece grande atenção nos planos de investimento de R$ 25 milhões da cooperativa neste ano, e de R$ 110 milhões nos últimos quatro anos.
A imagem da produção de uvas na Serra Gaúcha traduz-se no mercado pelos vinhos. No entanto, é a qualidade dos sucos integrais produzidos na região que garante a maior fatia das vendas e da produção nas indústrias da região. A liderança nacional de sucos integrais é da Cooperativa Vinícola Aurora, que tem 65% da sua produção e das vendas justamente nos sucos. O produto da cooperativa de Bento Gonçalves representa 30% de todo o suco integral brasileiro. E este setor merece grande atenção nos planos de investimento de R$ 25 milhões da cooperativa neste ano, e de R$ 110 milhões nos últimos quatro anos.
"Há uma tendência mundial pelo consumo de menos álcool. O jovem tem consumido bebidas mais saudáveis, e isso não significa abrir mão dos nossos vinhos, mas nos qualificarmos cada vez mais para atender a essa exigência. Um movimento que iniciamos junto aos nossos produtores de uva desde 2011, quando começamos a mostrar a eles a importância do cuidado e da valorização do cultivo de uvas para sucos, com o plantio de novos vinhedos, mais precoces, de variedades específicas, híbridas de americanas, adequadas para o suco, e tem surtido efeito. Ano a ano temos garantido produtos com menor acidez e mais qualidade, e isso se comprova nos números", aponta o diretor industrial da Aurora, Roberto Lazzarini.
As vendas de sucos representam 46% do faturamento da cooperativa, com alta demanda. Em torno de 20% da produção que, na indústria, graças ao investimento, inclusive ampliado neste ano, em tanques inoxidáveis para o melhor armazenamento, acondicionamento e envase a qualquer época do ano.
Nas unidades do Vale dos Vinhedos da Aurora, três linhas de produção são exclusivas para a elaboração e engarrafamento dos sucos. São dois tipos de produtos na linha de sucos integrais: a linha Casa de Bento, que é engarrafada de um dia para o outro, e a linha Aurora, esta, com maior limpeza do mosto - que tem recebido maiores investimentos da cooperativa -, com a uva estocada em tanques.
De acordo com Lazzarini, os sucos recebem agora um reforço de novos produtos zero álcool, que representam 2% da produção da Vinícola Aurora. Entre os novos produtos, está o suco de uva com gás e carbonatado artificialmente que, inclusive, tem aberto o mercado da China para os produtos da cooperativa. Está ainda em desenvolvimento o estudo para desalcoolização do vinho.
  | Arte/JC
Arte/JC
O setor vive um 2025 desafiador. Depois da safra ruim do último ano, neste ano, a colheita e a qualidade da uva foram positivas, no entanto, são os preços nas prateleiras que não têm atraído o público com o mesmo vigor aos sucos integrais. Ainda assim, o suco é uma receita para garantir rendimentos em momentos não muito favoráveis para o setor.
"Mesmo com a quebra da safra no ano passado, 26% do nosso faturamento veio do suco de uva. Em volume, temos mantido em torno de 50% da produção neste produto, e no campo, 65% da uva é do tipo americana, com 80% delas usadas na produção de sucos. O restante, é destinado aos vinhos finos", aponta o gerente de marketing da Cooperativa Vinícola Garibaldi, Maiquel Vignatti.
Ele recorda que o movimento em direção à valorização do suco iniciou há cerca de 20 anos, justamente para dar melhor destinação às uvas de mesa, que não garantiam, até então, valor agregado à produção da cooperativa de Garibaldi, que conta com 470 produtores associados.
"O suco é um produto que evolui muito, inclusive ao longo do ano, e isso nos exige investimentos industriais em tecnologia para manter o bom padrão. Temos observado, por exemplo, um bom crescimento no mercado do suco de uva branco, que hoje chega a 10% das vendas. Temos também investido em variedades de embalagens, com tamanhos menores do que os originais, com boa aceitação principalmente de 1 litro", aponta.
A Garibaldi é a terceira no mercado de sucos integrais brasileiros hoje, que conta, no top 3, com outra cooperativa da Serra, a Nova Aliança.

A uva é aproveitada por inteiro

Produção da Organovita é certificada

Produção da Organovita é certificada

Organovita/Divulgação/JC
A produção de uvas bordô, com maior resistência a variações climáticas, mesmo com menor produtividade, de 30 famílias em 12 municípios da Serra tem, em Garibaldi, a sua destinação para a produção média de 360 mil litros de suco 100% orgânico. Na Organovita, 100% da uva recebida das produções, que são certificadas internacionalmente como orgânicas, é processada e envasada no mesmo dia, sem o uso de conservantes. Uma produção que também se estende às maçãs, que resultam em 300 mil litros anuais de suco.
"Foi uma experiência que começou com o nosso pai, ainda no interior de Roca Sales, a partir de um parreiral que ele recuperou para fazer suco para as crianças da família. Ele era biólogo e sempre prezou pela produção orgânica. Logo, os vizinhos também estavam produzindo sem agrotóxicos. Até que, em 2001, compramos terra em Garibaldi, mas a produção cresceu, e, hoje, temos a parte industrial concentrada no município, com a produção das uvas e maçãs distribuída pela região", conta o diretor comercial da Organovita, César Luís Postingher.
Segundo ele, a certificação internacional, que garante lugar importante à empresa no mercado de orgânicos, é obtida a partir de auditoria aos produtores, com análise da ausência de contaminação no solo, do uso de insumos naturais, também certificados. E, na parte da industrialização, a diferença está na ausência de conservantes.
O percurso para a certificação não é simples, e quem já o trilhou, como a Organovita, corta o caminho para outras marcas ou redes de varejo. Hoje, metade da produção da empresa de Garibaldi é destinada a outras marcas, que usam seus rótulos, ou mesmo as marcas próprias de redes de varejo.
"O mercado tem recebido muito bem o nosso produto, que tem um valor de prateleira maior e um retorno muito positivo. Temos hoje, uma das empresas do setor orgânico melhor estruturadas no País, com 30 funcionários e crescente automatização. Os nossos produtos chegam a todo o Brasil e, no exterior, principalmente aos Estados Unidos e Canadá", comenta o diretor.

Farinhas e óleo valorizados

Na Organovita, em Garibaldi, além da produção orgânica de sucos e vinagres, o aproveitamento da uva é total. Na produção líquida, a empresa industrializa ainda os vinagres. Mas o aproveitamento das frutas é por inteiro na produção. São separadas cascas e sementes que, secas, e com um processo que evita a fermentação, resultam em farinhas a partir da trituração, ricas em fibras, e em óleo, extraído da semente da uva, com uso direcionado desde a indústria de cosméticos e de alimentos, inclusive como substituto, de maior valor agregado, ao azeite de oliva. A cada ano, a Organovita produz 5 toneladas de farinhas a partir da uva e da maçã, com 15% dessa produção destinada à exportação. "Somos os únicos produtores de óleo de uva 100% orgânico e certificado no Brasil", explica César Luís Postingher. Anualmente, a empresa produz 500 litros de óleo de uva, destinados ao mercado brasileiro.

A Serra também produz destilados

Union Destillery produz até três milhões de litros por ano de malte whisky

Union Destillery produz até três milhões de litros por ano de malte whisky

William Sigognini/Divulgação/JC
Está na capital do vinho, em uma propriedade que, durante muito tempo, foi um dos endereços da produção de vinhos da cidade, mas o que há ali hoje é uma destilaria, de onde saem até três milhões de litros por ano de malte whisky, pela Union Destillery, inclusive, a exemplo dos produtores de vinho de Bento Gonçalves, ensaiando os primeiros e bem-sucedidos passos na exploração turística da sua produção.
"O turismo para nós ainda é uma descoberta, e para os turistas também. Nós abrimos a destilaria, mostrando aos visitantes o passo a passo do processo de produção do whisky, a partir de um único cereal, o malte, até a degustação no final. Percebemos que há um encantamento dos turistas por descobrir algo novo. É um caminho com grande potencial, assim como é para o whisky brasileiro. Nós somos considerados o novo mundo do whisky", explica o diretor executivo da Union Destillery, Luciano Borsato.
Ele lidera um processo de modernização da produção iniciado em 2010, quando a empresa adquiriu a propriedade em Bento, que pertencia à vinícola Cordelier. A proposta da destilaria é oferecer ao mercado um whisky premium que garanta a produção da sua própria linha, produzida e vendida em Bento Gonçalves, mas mantém o seu perfil de fornecedor para outras empresas engarrafarem no Brasil e no Exterior.
Segundo Borsato, 99% da produção é destinada a outras empresas, e 40% é destinada ao mercado externo.
"O mercado do whisky cresceu muito nos últimos anos, por isso investimos na ampliação não apenas da produção, mas também dos barris, para atender a novos clientes no Exterior. Os países da América do Sul, como Argentina, Chile e Uruguai, além do Japão, são os nossos principais parceiros fora do Brasil", diz o diretor.
A destilaria conta hoje com 35 funcionários que operam dois destiladores de 16 mil litros, que têm a função de concentrar o álcool na primeira etapa da produção. E um destilador com capacidade para 18 mil litros, que separa os elementos que vão formar o malte whisky.
A origem da Union Destillery remonta a 77 anos atrás, em Veranópolis. À época, a chamada União Montanhesa era uma cooperativa de produtores, que durou até o início dos anos 1970, quando a família Borsato encampou o negócio e deu novo rumo a ele. Ainda no final daquela década, passou a fornecer no mercado o malte whisky produzido em Veranópolis, com a primeira exportação em 1984.
Diferente das produções de vinho, não há produção rural na área da Union Destillery. A base do whisky é a cevada, já maltada, que vem principalmente do Paraná. Há ainda 5% do malte usado pela empresa importado da Escócia e usado em linhas mais premium.
"A produção hoje é toda concentrada em Bento Gonçalves, mas mantemos a sede em Veranópolis. Ficam lá hoje os depósitos com os estoques mais antigos", explica Borsato.
Além das suas sete linhas vintage malte whisky engarrafadas na Serra e outras duas linhas de edições limitadas, a Union Destillery produz ainda, sob encomenda, um licor de whisky, uma linha de vinho e cerveja.

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