Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 23 de Outubro de 2025 às 16:17

Maior bacia leiteira do País garante valorização nas prateleiras

Saem dos municípios da Fronteira Noroeste e do Noroeste Colonial 2,72 bilhões de litros por ano

Saem dos municípios da Fronteira Noroeste e do Noroeste Colonial 2,72 bilhões de litros por ano

TÂNIA MEINERZ/JC
Compartilhe:
Eduardo Torres
Eduardo Torres Repórter
Está no Noroeste do Rio Grande do Sul a maior bacia leiteira do País, conforme o Anuário do Leite 2025, divulgado pela Embrapa Leite. Conforme o levantamento, considerando os dados da produção de 2023, saem dos municípios da Fronteira Noroeste e do Noroeste Colonial 2,72 bilhões de litros por ano - 7,71% de toda a produção nacional -, que representam 60% da produção gaúcha. Tamanho potencial tem gerado cada vez mais aprimoramento e investimentos da industrialização do leite neste recorte do Rio Grande do Sul.
Está no Noroeste do Rio Grande do Sul a maior bacia leiteira do País, conforme o Anuário do Leite 2025, divulgado pela Embrapa Leite. Conforme o levantamento, considerando os dados da produção de 2023, saem dos municípios da Fronteira Noroeste e do Noroeste Colonial 2,72 bilhões de litros por ano - 7,71% de toda a produção nacional -, que representam 60% da produção gaúcha. Tamanho potencial tem gerado cada vez mais aprimoramento e investimentos da industrialização do leite neste recorte do Rio Grande do Sul.
É a partir da verticalização cada vez maior da produção leiteira que, mesmo com a redução do número de produtores na cadeia leiteira nas últimas décadas, a produção está cada vez mais adensada entre menos produtores com maiores volumes de leite enviados ao processamento.
"Antigamente, com menos tecnologia industrial, havia necessidade do processamento estar próximo dos maiores centros de consumo como, por exemplo, na Região Metropolitana. Hoje, o processo industrial, com o longa vida, o leite em pó e a conservação de outros derivados, o mais importante é garantir aproximação da indústria com a origem do leite. Uma vez coletado, temos um dia para iniciar o processamento, e aí, naturalmente, os investimentos estão concentrados na nossa maior bacia leiteira", explica o presidente da CCGL, Caio Vianna.
São pelo menos 28 laticínios mapeados na macrorregião retratada neste capítulo do Mapa Econômico, e isso tem se refletido no mercado de consumo. Os produtos fabricados na região figuram, de fato, entre os preferidos do consumidor no Sul do Brasil e até em outras regiões do País.
E como há disputa forte nas prateleiras, os investimentos nas indústrias locais são crescentes. É o caso da multinacional francesa Lactalis, que tem duas unidades em Três de Maio e outras em Ijuí, Santa Rosa e Tapera, além da sua unidade em Teutônia, no Vale do Rio Pardo, gerando quatro mil empregos diretos no Estado.
No ano passado, o grupo considerado líder mundial em captação de leite investiu R$ 100 milhões na expansão das linhas de produção de queijo processado em Santa Rosa, de muçarela em Três de Maio e de queijo prato em Ijuí.  E neste ano, foram anunciados outros R$ 400 milhões a serem desembolsados até 2028, totalizando R$ 1 bilhão aportados no Rio Grande do Sul desde o início das operações da multinacional por aqui, em 2015. Desta vez, além dos incrementos nas produções de queijo, a empresa também planeja aportar recursos nas produções de manteiga, requeijão e compostos lácteos, além da ampliação de seus dois centros de distribuição em Ijuí e Teutônia.
De acordo com a Lactalis, a intenção é ampliar a sua produção gaúcha de 304 mil toneladas de produtos processados em 2024 para 453 mil toneladas sem 2028, com prioridade para os queijos, que devem aumentar em 70% a sua produção, chegando a 100 mil toneladas produzidas por ano. A captação de leite na região passará de 900 mil litros para 1,3 bilhão de litros por ano. A estimativa do CEO da Lactalis Brasil, Roosevelt Júnior, é que somente a demanda do grupo possibilitará aumento de 10% da produção gaúcha de leite. A Lactalis produz as marcas Batavo, Président, Elegê, Cotochés, Poços de Caldas, Itambé e Parmalat, além do Chambinho, Chamyto e Chandelle e pelas linhas de refrigerados Nestlé, Ninho, Neston, Molico e Nesfit.
Em Carazinho, na região da Produção, quem investe é a Piracanjuba. Em 2020, a goiana Laticínios Bela Vista, que produz a marca Piracanjuba, retomou a produção na unidade industrial da cidade, que pertencia à Nestlé. Ali, além do leite UHT, a empresa produz creme de leite, leite condensado e achocolatados. Agora, a Piracanjuba desembolsa R$ 65 milhões para ampliar a área fabril quase 20% - aumentando assim a sua capacidade produtiva - e também para colocar em prática um projeto de geração de biogás para o abastecimento próprio e redução de emissões na produção a partir do tratamento de resíduos da produção leiteira. Uma nova caldeira, movida a biomassa, será ativada a partir deste investimento, aumentando a capacidade competitiva da fábrica.

Cooperativa domina a produção de leite em pó

Presidente da CCGL, Caio Vianna, diz que cenário de alta concorrência representa oportunidade

Presidente da CCGL, Caio Vianna, diz que cenário de alta concorrência representa oportunidade

DANI BARCELLOS/ESPECIAL/JC
A presença de tantos gigantes nacionais e internacionais na região não representa temor à CCGL, que tem, entre as cooperativas associadas no Estado, 16 delas fornecedoras de leite para a sua indústria em Cruz Alta. De acordo com o presidente Caio Vianna, este cenário representa oportunidade.
"É uma chance de parcerias para a cooperativa e para os nossos produtores. Jamais quisemos ser os únicos neste mercado, mas conversamos e cooperamos para gerar ganhos ao produtor também fornecendo a esses grandes laticínios", explica Vianna, que tem, no guarda-chuva da CCGL, 170 mil produtores de leite.
A cooperativa, no entanto, encontrou um nicho no qual vem ganhando destaque que vai bem além do Rio Grande do Sul. A marca CCGL de leite em pó já é a quinta mais consumida no Nordeste do Brasil, por exemplo.
"Na nossa fábrica, produzimos também creme de leite e achocolatados, por exemplo, mas o nosso carro-chefe é o leite em pó. É uma questão de oportunidade. Hoje, 70% dos lácteos produzidos no Rio Grande do Sul são comercializados e consumidos fora daqui. O leite desidratado e em pó nos garante maior capacidade de levar o produto a maiores distâncias, sem riscos de perda, e com capacidade de transportar maiores quantidades em um único carregamento", explica o dirigente.
Para que se tenha uma ideia, 8 litros de leite geram 1 quilo de leite em pó ao serem desidratados. E a unidade da central de cooperativas no município do Alto Jacuí hoje é considerada a maior planta industrial de produção de leite em pó na América Latina. Tem capacidade instalada para processar até 3,4 milhões de litros de leite por dia. Mais do que o triplo de quando instalou a indústria, em 2014.

No mercado do whey

Indústria da Whey do Brasil recebeu investimento de R$ 250 milhões

Indústria da Whey do Brasil recebeu investimento de R$ 250 milhões

/Mauricio Tonetto/Secom RS/Divulgação/JC
Para garantir maior eficiência na produção, agregando valor ao soro do leite, antes um passivo ambiental, em parte destinado à ração animal, um grupo de sete laticínios da região - Stefanello, Mandaká, Friolack, Frizzo, Kiformaggio, São Luis e Doceoli - também apostou em um nicho diferenciado e em crescimento no mercado do leite.
Foi inaugurada neste ano a planta da Whey do Brasil, com um investimento de R$ 250 milhões, em Palmeira das Missões, na região do Rio da Várzea. A fábrica, que retomou a produção em uma antiga unidade da Nestlé no município, iniciou as operações com capacidade para processar 1,2 milhão de soro fluido de leite por dia. Material que, a princípio, será fornecido pelos próprios laticínios sócios no negócio.
A estimativa é gerar 100 toneladas diárias de produtos em pó, como soro em pó, compostos lácteos e whey protein, e já há intenção de ampliar a capacidade para 2,5 milhões de litros por dia, expandindo o portfólio para atender os setores de alimentos, cosméticos, suplementos e farmacêuticos.

Raio x

A bacia leiteira do Noroeste gaúcho foi considerada a maior produtora de leite no Brasil em 2024 
- São pelo menos 28 laticínios na região
Produção leiteira (valor da produção):
- Santo Cristo: R$ 183,4 milhões
- Augusto Pestana: R$ 160,6 milhões
- Ijuí: R$ 130,6 milhões
- Cândido Godói: R$ 108,9 milhões
- Ajuricaba: R$ 103,7 milhões
(FONTE: IBGE, 2024, EMBRAPA LEITE, SINDILAT)
 

A força das marcas locais

- Barras de cereal (5º no Sul do Brasil: Naturale)
- Chá (3º no Sul do Brasil: Barão)
- Creme de leite (1º no Sul e no Brasil: Piracanjuba; 3º no Sul e 2º no Brasil: Italac; 5º no Nordeste: CCGL)
- Leite condensado: (1º no Sul e 2º no Brasil: Piracanjuba; 2º no Sul e 1º no Brasil: Italac)
- Leite em pó (2º no Sul: Piracanjuba; 4º no Sul, 5º no Nordeste, 5º no Brasil: CCGL; 5º no Sul: Aurora)
- Leite longa vida integral (2º no Sul: Lactalis; 4º no Sul: Italac)
- Leite longa vida desnatado (2º no Sul: Lactalis; 3º no Sul: Piracanjuba)
- Molho branco (2º no Sul: Lactalis)
- Iogurte de frutas (2º no Sul: Lactalis)
- Leite fermentado (1º no Sul: Lactalis)
- Requeijão (4º no Sul: Lactalis)
- Queijo cremoso (1º no Sul: Lactalis)
(FONTE: AGAS/SUPERHIPER 2025)

Notícias relacionadas