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Publicada em 23 de Outubro de 2025 às 15:07

Entre irrigação e manejo do solo, produção tenta driblar as estiagens

Na área de atuação da Coopatrigo, são 550 mil hectares plantados e, em 100 mil deles já há irrigação

Na área de atuação da Coopatrigo, são 550 mil hectares plantados e, em 100 mil deles já há irrigação

Coopatrigo /Divulgação/JC
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Eduardo Torres
Eduardo Torres Repórter
Ao mesmo tempo em que a macrorregião destaca-se pelo avanço da industrialização da produção agrícola, é também castigada pela variação climática do Estado, com a sequência de estiagens. Para driblar essa dificuldade, o avanço de programas de melhorias no manejo do solo e principalmente de irrigação tem este recorte do Rio Grande do Sul como principal expoente. A estimativa é de que, nesta próxima safra de verão, o Estado tenha uma redução, em torno de 0,5% na área plantada de soja. A aposta está na maior eficiência deste plantio para reduzir as perdas.
Ao mesmo tempo em que a macrorregião destaca-se pelo avanço da industrialização da produção agrícola, é também castigada pela variação climática do Estado, com a sequência de estiagens. Para driblar essa dificuldade, o avanço de programas de melhorias no manejo do solo e principalmente de irrigação tem este recorte do Rio Grande do Sul como principal expoente. A estimativa é de que, nesta próxima safra de verão, o Estado tenha uma redução, em torno de 0,5% na área plantada de soja. A aposta está na maior eficiência deste plantio para reduzir as perdas.
A soja, que teve a origem do seu plantio neste recorte do Rio Grande do Sul, em 2014, tinha cinco dos dez maiores municípios produtores gaúchos. Em 2024, somente três dos municípios com maiores áreas plantadas estão nessa macrorregião. Por outro lado, os dados da safra de 2024 mostram que seis das dez maiores quantidades de soja colhida foram nesta macrorregião.
"Estamos no epicentro da má distribuição de chuvas do Estado, então, o desafio não é exatamente, ou somente, a estiagem, mas a falta de uniformidade do clima, e quando tem sol, é muito intenso. Então, somos o epicentro da irrigação no Rio Grande do Sul. Apesar das dificuldades do produtor para investir e das limitações ambientais, temos trabalhado muito para consolidar a reserva de água e a irrigação", explica o presidente da Coopatrigo, Paulo Pires.
São Luiz Gonzaga, onde fica a sede da cooperativa, é o município líder em áreas irrigadas por pivô nesta macrorregião - segundo maior do RS, atrás somente de São Borja. Na área de atuação da Coopatrigo, são 550 mil hectares plantados e, em 100 mil deles já há irrigação. Com 275,8 mil toneladas de soja colhidas no ano passado (6º maior do RS), entre os dez maiores produtores, São Luiz Gonzaga, com produtividade de 3,2 toneladas por hectare, ficou atrás somente de Santa Bárbara do Sul, no Alto Jacuí, onde as técnicas de plantio direto e irrigação também são bastante desenvolvidas, chegando a 4 toneladas por hectare.
O índice de produtividade também se observou no cultivo de trigo, no inverno. São Luiz Gonzaga teve, em 2024, a terceira maior área plantada, com 30 mil hectares, mas foi o maior município produtor, tendo colhido 81 mil toneladas do grão, representando uma produtividade de 2,7 toneladas por hectare. Conforme a Secretaria Estadual da Agricultura, só 3,5% das áreas plantadas de soja no Estado são irrigadas, e nelas, a produtividade foi cerca de 80% superior.
"Nesta última safra, tivemos quebra em torno de 50%. Em 2022, chegou a 70%. Infelizmente, sem seguro ou outras garantias, o produtor está se endividando, enxugando custos com adubo e fertilizante para conseguir a safra, e sabemos que isso vai acabar afetando as próximas safras. A irrigação também tem custo elevado, mas nesse caso, não temos escolha: ou paramos de plantar, ou irrigamos. Tudo entra no custo da produção", diz Paulo Pires.
Sem muito lastro para investimentos no campo, resta às cooperativas garantir assistência técnica aos produtores. A Cotripal, por exemplo, criou um projeto próprio para a irrigação, com a centralização dos projetos e a captação de recursos para custeá-los. O projeto chega agora ao terceiro ano, tendo registrado, entre 2023 e 2024, um aumento de quase 10% da área irrigada. O objetivo da cooperativa é chegar a 1 mil hectares irrigados com projetos próprios.

Das cooperativas à política pública

Caio Vianna defende que, antes de pensar em irrigar, é preciso pensar na resolução dos problemas do solo

Caio Vianna defende que, antes de pensar em irrigar, é preciso pensar na resolução dos problemas do solo

TÂNIA MEINERZ/JC
"A irrigação é importante, mas antes de pensar em irrigar, é preciso pensar na resolução dos problemas do solo, a custos baixos. E talvez não seja preciso irrigar para garantir uma produção eficiente e ambientalmente mais adaptada às variações climáticas que sofremos", diz o presidente da CCGL, Caio Vianna.
A cooperativa de Cruz Alta, que centraliza outras 25 cooperativas no Estado, lidera a Rede Técnica Cooperativa (RTC), hoje consolidada como o maior suporte ao manejo nas lavouras de produtores rurais entre cooperativas gaúchas. Em Cruz Alta, a CCGL mantém um centro de experimentação, hoje chamado CCGL Tech, mais antigo do que a Embrapa, dedicado às pesquisas agropecuárias. Além do campo experimental na cidade do Alto Jacuí, há ainda outros 15 campos espalhados pelo Estado, cada um tratando das características climáticas e de solo locais.
"Temos hoje uma rede aberta tanto para a inovação quanto para a troca de informações, especialmente relacionadas ao solo e ao clima. Resulta em vantagem tanto para a produção leiteira, que é o nosso produto a ser industrializado, aos grãos e forrageiras e ao gado de corte", explica Vianna.
O dirigente garante que hoje é possível programar a lavoura para enfrentar El Niño, La Niña e outros fenômenos climáticos estabelecendo datas diferenciadas para o plantio e a escolha adequada de plantas a serem usadas no devido período, resultando em ganhos de produtividade que, no caso da soja, ele atesta, chegam a 14 sacos a mais por hectare do que no cultivo tradicional.
É resultado direto do principal produto técnico gerado pela RTC, a Operação 365 que, em breve, deve ser tornada política pública do Governo do Estado. Nada mais é do que garantir o solo coberto por 365 dias do ano.
"Conseguimos desenvolver um conjunto de manejos que mitigam os riscos climáticos e ainda contribuem para a melhora do ambiente natural. O conceito é simples: quanto mais plantas sobre o solo, mais limpamos a atmosfera. Com diversidade no plantio, rotatividade de culturas, manejo, aprofundamentos do solo para captar a água e garantir que, quando chove, essa água não desça, por exemplo, para Porto Alegre com inundação, mas fique no solo, na agricultura", conta o dirigente.
O conhecimento produzido a partir da rede, que chega a pelo menos 170 mil produtores das cooperativas associadas, é conectado a eles por meio de um aplicativo próprio, o SmartCoop.

Produção de grãos

Soja (área):
- Palmeira das Missões (5º no RS): 110 mil hectares
- Cruz Alta (9º no RS): 92,4 mil hectares
- São Luiz Gonzaga (10º no RS): 85,5 mil hectares
- Jóia (11º no RS): 82,5 mil hectares
- Santa Bárbara do Sul (13º no RS): 75 mil hectares
Soja (produção):
- Palmeira das Missões (2º no RS): 363 mil toneladas
- Cruz Alta (3º no RS): 339,2 mil hectares
- Santa Bárbara do Sul (5º no RS): 301,2 mil hectares
- São Luiz Gonzaga (6º no RS): 275,8 mil hectares
- Jóia (8º no RS): 253,6 mil hectares
Milho (área):
- Palmeira das Missões (4º do RS): 14,5 mil hectares
- São Luiz Gonzaga (5º do RS): 14,2 mil hectares
- São Miguel da Missões (8º do RS): 10,5 mil hectares
- Cruz Alta (9º do RS): 10 mil hectares
- Santo Antônio das Missões (12º do RS): 7,5 mil hectares
Milho (produção):
- Palmeira das Missões (2º do RS): 140,4 mil toneladas
- São Luiz Gonzaga (3º do RS): 96,3 mil toneladas
- Cruz Alta (6º do RS): 75,8 mil toneladas
- São Miguel das Missões (8º do RS): 71,4 mil toneladas
- Santa Bárbara do Sul (9º do RS): 54 mil toneladas
Trigo (área):
- Palmeira das Missões (1º no RS): 42 mil hectares
- São Miguel das MIssões (2º no RS): 30 mil hectares
- São Luiz Gonzaga (3º no RS): 30 mil hectares
- Giruá (5º no RS): 27 mil hectares
- Cruz Alta (6º no RS): 25 mil hectares
Trigo (produção):
- São Luiz Gonzaga (1º no RS): 81 mil toneladas
- Palmeira das Missões (2º no RS): 75,8 mil toneladas
- São Miguel das Missões (3º no RS): 75,6 mil toneladas
- Cruz Alta (4º no RS): 75 mil toneladas
- Giruá (8º no RS): 59,9 mil toneladas
Aveia (área):
- Santa Bárbara do Sul (1º no RS): 15 mil hectares
- Jóia (2º no RS): 12 mil hectares
- Giruá (3º no RS): 10,5 mil hectares
- São MIguel das Missões (4º no RS): 10 mil hectares
- Palmeira das Missões (5º no RS): 10 mil hectares
Aveia (produção):
- Santa Bárbara do Sul (2º no RS): 30 mil toneladas
- Giruá (3º no RS): 27,3 mil toneladas
- Jóia (4º no RS): 24 mil toneladas
- Cruz Alta (5º no RS): 22 mil toneladas
- São Miguel das Missões (7º no RS): 21 mil toneladas
Girassol (área/produção):
- Giruá (2º no RS): 350 hectares/525 toneladas
- Santo Ângelo (3º no RS): 270 hectares/389 toneladas
- São Luiz Gonzaga (4º no RS): 100 hectares/120 toneladas
- Ijui (5º no RS): 100 hectares/100 toneladas
- Ubiretama (7º no RS): 15 hectares/23 toneladas
Canola:
- São Luiz Gonzaga
- Giruá
- Colorado
- Ajuricaba
- Passo Fundo
(FONTE: IBGE, 2024)

Principais municípios com irrigação

- São Luiz Gonzaga (1º no RS)
- Cruz Alta (4º no RS)
- São Miguel das Missões (5º no RS)
- Santa Bárbara do Sul (6º no RS)
- Jóia (8º no RS)
(FONTE: SECRETARIA DA AGRICULTURA RS, 2024)

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