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Mapa Econômico do RS

- Publicada em 26 de Outubro de 2023 às 19:34

Terra das multinacionais, Serra Gaúcha aposta em inovação

Caxias do Sul concentra o segundo maior PIB entre os municípios do Rio Grande do Sul

Caxias do Sul concentra o segundo maior PIB entre os municípios do Rio Grande do Sul


EVANDRO OLIVEIRA
É questão de tempo para que o transporte público das grandes cidades tenha os ônibus elétricos como solução mais sustentável para reduzir o impacto ao meio ambiente. Os primeiros 30 veículos com chassis 100% nacionais e motores exclusivamente elétricos já rodam em testes em algumas cidades brasileiras. Até o final do ano, outros 100 modelos do chamado Attivi Integral devem sair da indústria da Marcopolo, em Caxias do Sul. Também não está longe da realidade caminhões rodando nas estradas brasileiras de maneira mais econômica, limpa e eficiente. Até o final do ano, a Randoncorp pretende ter 50 carretas 100% elétricas no mercado.
Ambos os projetos têm destino comum, e principalmente, origens semelhantes, dentro das unidades de inovação de duas das principais indústrias da Serra Gaúcha. O chamado "chão de fábrica", no processo de internacionalização que acontece entre os principais polos produtivos das regiões da Serra, Campos de Cima da Serra, Hortênsias e Vales do Caí e Paranhana, virou palco para o pioneirismo em tecnologia.
O faro para compreender as necessidades do mercado com velocidade para responder às demandas é uma característica comum aos setores metalmecânico, calçadista, moveleiro, de alimentos e até do turístico que prosperam neste recorte do Mapa Econômico do RS. Para que se tenha uma ideia, nos últimos 10 anos, as regiões foram destino de R$ 2,2 bilhões em investimentos do BRDE – 22% dos R$ 9,9 bilhões aportados no período no Estado –, destes recursos, R$ 767,4 milhões (81% na Serra) foram para projetos da indústria da transformação, sobretudo, em linhas de financiamento para a inovação.
E quem inova, com a velocidade que se observa nessas regiões, parte da liderança em seus setores no mercado nacional às exportações, e avança para a instalação em terras estrangeiras. Tornam-se multinacionais sem desfazer a raiz em solo gaúcho.
As regiões concentram, por exemplo, 10 entre os 50 maiores municípios exportadores gaúchos, entre janeiro e setembro deste ano, conforme o Ministério da Indústria e Comércio Exterior. Não à toa, empresas como a Randoncorp, Tramontina e Marcopolo, todas da Serra e com operações fora do Brasil, lideram o levantamento do Marcas de Quem Decide, organizado pelo Jornal do Comércio.
“A permanência de grandes empresas que hoje são multinacionais se justifica pelo ambiente criado ao longo da história, e sempre renovado a partir de práticas que parecem simples no dia a dia. Outro dia, um grande empresário da cidade contou que surgiu a necessidade de uma cola específica para as suas operações. Imediatamente, ele acionou todo o ecossistema que há na cidade e na região, e em duas horas apareceu uma solução. Em qual outro lugar isso seria possível? Está no DNA da nossa produção”, diz o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico de Caxias do Sul, Élvio Gianni.
Foi assim em 1950, quando foi apresentado ao Senai o desafio de iluminar a Festa da Uva. Surgia ali a Intral, hoje a única fabricante de drivers para a iluminação com produção 100% nacional no Brasil. Da fábrica em Caxias do Sul, onde trabalham 273 pessoas, saem diariamente 8 mil drivers, destinados, em 95% dos casos, ao mercado nacional. Mas a empresa exporta para mais de 10 países.
“Hoje, temos a capacidade de suprir a demanda deste produto em todo o mercado nacional. Nosso esforço tem sido o de mostrar para o consumidor a importância de valorizar esta produção brasileira. Além disso, temos um potencial muito grande para a exportação, e por isso estamos investindo anualmente na renovação e estruturação do parque fabril”, diz o CEO da empresa, Rodrigo Fantinel.
Somente no ano passado, o setor industrial de equipamentos elétricos respondeu por quase R$ 80 milhões em arrecadação de ICMS ao município. Desde o começo de 2022, a Intral investe R$ 18 milhões em expansão.
Aportar recursos para seguir acelerando a economia local é quase uma obrigação em Caxias do Sul, que é, literalmente, o motor do desenvolvimento regional. Com PIB de R$ 25,9 bilhões registrado em 2020, a cidade é a segunda no ranking dos municípios do Estado, e tem o maior Valor Adicionado Bruto (VAB) Industrial não apenas da região, mas de todo o Rio Grande do Sul.
Dados da Secretaria da Fazenda apontam que, em 2021, havia 3,3 mil indústrias em Caxias do Sul – é um terço do total de indústrias na Serra –, e mais da metade delas são dos setores metalmecânico e automotivo.
Em 2022, do total de R$ 1,7 bilhão arrecadados pelo município em ICMS industrial, R$ 897,6 milhões – 52,8% do total – foram provenientes deste setor. Não à toa, Caxias do Sul é o segundo maior polo metalmecânico do País, com uma característica própria, como descreve o economista e pesquisador do Departamento Estadual de Economia (DEE), Rodrigo Feix. “A crise econômica de 2014 atingiu com muita força o setor metalmecânico da Serra. Eles foram forçados a se adaptarem, e esse processo acabou acelerando a internacionalização dessas empresas, com toda a demanda que o cenário internacional exigia. Hoje, elas se consolidam em um novo patamar”.