As enchentes de maio de 2024 abalaram toda a cidade de Porto Alegre. Pelo menos 46 dos 96 bairros do município foram diretamente atingidos pela cheia do Guaíba, afetando 157 mil pessoas e 39 mil edificações na cidade, conforme a prefeitura da Capital divulgou à época. Nas estratégias de reconstrução, a construção civil ficou aquecida em todo o Estado, conforme aponta o Departamento de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul (DEE-RS).
Para o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado (Sinduscon-RS), Claudio Teitelbaum, a principal demanda neste sentido foi no setor de moradias populares. “A gente tem observado isso e esse crescimento vem ajudando a estabelecer as bases para o crescimento do setor”, acrescentou o dirigente da entidade.
Por outro lado, desde a pandemia os imóveis de alto padrão, bem localizados e acima de 200 metros quadrados privativos, foram valorizados. O contraste entre os tipos de edificações dão conta da histórica desigualdade do espaço urbano em Porto Alegre. E é isso que será discutido na apreciação do projeto de revisão do Plano Diretor da cidade, que tramita na Câmara Municipal da capital gaúcha, mas que deverá ser votado em 2025.
“Os últimos planos diretores foram muito danosos para o crescimento da cidade. Eles jogaram a população de menor renda para os limites de Porto Alegre e acabaram por elitizar a moradia de uma forma muito exacerbada, expurgando parte da população da cidade”, pontuou Teitelbaum sob uma perspectiva histórica. Para ele, a próxima legislação deve promover o adensamento urbano em áreas que já possuam infraestrutura para isso.
"A ideia da prefeitura de criar minicidades dentro da cidade, com locais mais autossustentáveis, com comércio, com serviços e com moradia, é uma atitude acertada e que vai melhorar problemas que hoje a gente tem de mobilidade urbana e também de qualidade de vida”, avalia Teitelbaum sobre o projeto que tramita no Legislativo. De acordo com ele, alguns lugares que tendem a se desenvolver a partir do Plano Diretor são as regiões próximas à avenida Ipiranga, o Quarto Distrito e o Centro Histórico.
Tíquete médio aumentou no pós-pandemia
O valor médio pago em um imóvel próprio encareceu após a pandemia de Covid-19. Nesse sentido, Teitelbaum observa que, além das moradias populares, aumentou a busca por kitnets e apartamentos no formato studio, tradicionalmente mais baratas.
“Tínhamos alguns valores que estavam represados pelo custo de construção, que teve um aumento considerável depois da pandemia. E a gente viu uma certa absorção desse custo de metro quadrado no preço de venda, o que já começamos a experimentar no segundo semestre de 2025”, analisa Teitelbaum.
Os preços de venda deverão ter um aumento gradual a partir de 2026 conforme o presidente do Sinduscon. “Os lançamentos diminuíram um pouco e se reduziu o estoque de imóveis. Então, estamos enxergando que o setor vai ter uma reacomodação e um leve aumento de valores para recompor esses custos dentro das margens das empresas”, conjectura.