A tradição na produção industrial de doces no Vale do Taquari agora tem reconhecimento internacional. A Docile, de Lajeado, figura como a 97ª maior indústria de doces mundiais pelo Top 100 Candy Companies, desenvolvido pelo Candy Industry, dos Estados Unidos. É a única empresa gaúcha, e uma das quatro brasileiras, no ranking.
A Docile já é a maior exportadora brasileira de doces e, com a chancela do ranking mundial, a estratégia do presidente Ricardo Heineck, diante do cenário de incertezas na economia mundial, especialmente para quem exporta para os Estados Unidos, é fortalecida: se há incerteza, há maiores investimentos para firmar a posição no mercado.
"Figurar ao lado de players estratégicos e referências globais é um voto de confiança que confirma algo que vínhamos trabalhando há muito tempo para consolidar e já mostra resultados, com a aproximação de muitos clientes internacionais interessados. É, também, uma garantia de que continuaremos contribuindo muito para trazer recursos para o Vale do Taquari, tão castigado nos últimos anos. Temos uma importância social, e, agora, o desafio é manter essa posição, mesmo com incertezas no mercado. E isso se faz com investimento e cada vez maior qualidade e inteligência para entender o que o consumidor quer dos nossos produtos", aponta o executivo.
Se a guerra comercial está estabelecida pelos Estados Unidos, o mercado dos candies necessariamente é afetado. Em um primeiro momento, com a super taxação aos chineses, saltando de 25% para 130%, o mercado foi em busca de alternativas. Mas logo o governo Donald Trump negociou com os asiáticos e a taxação nos doces chineses ficou em 30%.
Aos brasileiros, a taxa de importação, que era de 5,6% nos Estados Unidos, saltou para 15,6%. E, a ser confirmada medida anunciada por Trump, deve ser eleavada a 50% a todos os produtos brasileiros a partir de amanhã. No final das contas - ou ainda no aguardo pelos próximos capítulos - a taxa para exportar aos norte-americanos ficou mais pesada para a Docile do que para a China. Para os fabricantes do México, por exemplo, as taxas já voltaram a zero.
"Não vamos perder competitividade, especialmente pelas nossas matérias-primas e pela nossa capacidade de nos diferenciarmos em relação à concorrência. Neste ano, por exemplo, lançamos o primeiro marshmallow de pipoca do mundo, assim como o marshmallow de pistache e de paçoca. Somos vistos no mundo como uma marca inovadora, 100% brasileira e também em crescimento no mercado interno. Trabalhamos em desenvolvimento de produtos para não ficarmos reféns de taxas", explica Heineck.
Hoje, 35% da produção de Lajeado é destinada à exportação, e há meta de aumentar em 15% a participação no mercado brasileiro. Para seguir avançando, os investimentos estão a pleno. A partir deste início de segundo semestre, a capacidade de produção da fábrica aumenta em 50%, passando de 200 mil quilos por dia para 300 mil kg.
Com aporte de R$ 100 milhões - 60% desembolsados neste ano - iniciados no ano passado, a Docile finaliza a instalação da maior linha de produção mundial de balas de gelatina e goma. É a única empresa do setor no País com essa tecnologia. A máquina é instalada no novo prédio da empresa, com 7,4 mil m², construído para adicionar espaço ao centro de distribuição já existente na planta industrial de Lajeado.
E, para 2026, Ricardo Heineck antecipa que há um novo plano de investimentos em estudos, que deve chegar a R$ 70 milhões. "Temos crescido mais do que a média do mercado", resume o presidente, dando alguns indicativos de estratégias futuras. "Já somos fortes na Inglaterra, mas estamos desenvolvendo um padrão em que as portas se abrem para outros mercados europeus, com o desenvolvimento de produtos veganos e sem ingredientes geneticamente modificados, por exemplo".
A previsão é garantir R$ 810 milhões de faturamento em 2025 e, no próximo ano, a meta é chegar a R$ 1 bilhão.
Indústria aposta em criatividade e diferenciação na produção de chocolates
De um lado, o cenário internacional acende um alerta pela alta nos preços do cacau - em dois anos, a disparada chega a 190%. De outro, há o desafio de manter uma marca consolidada como a quarta mais consumida no Brasil entre todas as indústrias de chocolates no País. A aposta da tradicional Neugebauer, a partir da sua indústria em Arroio do Meio, é investir ainda mais na criatividade.
De acordo com o presidente, Ricardo Vontobel, "a busca por sabores diferenciados e atração de novos públicos, mantendo o foco na qualidade e diversidade de produtos é uma tendência".
Entre as apostas da indústria de Arroio do Meio estão as barras de chocolate com a roupagem de sobremesas consagradas, na sua linha Noig. O portfólio avança também para as linhas de chocolates com wafer e de confeitos. Ao todo, aponta Vontobel, a empresa que tem 130 anos conta com mais de 100 produtos, dos chocolates ao doce de leite.
A Neugebauer é uma das 51 empresas que compõem o Arranjo Produtivo Local de Alimentos e Bebidas do Vale do Taquari, que une fabricantes, operadores logísticos e varejo do setor em 12 municípios.
Polo de alimentos e bebidas
* Entre os Vales do Taquari e do Rio Pardo e a Região Central do Estado, são mais de 50 indústrias de bebidas e mais de 1,5 mil empregos gerados pelo setor.
* Entre os Vales do Taquari, do Rio Pardo e do Jaguari, e as Regiões Central e Jacuí Centro, são mais de 500 indústrias do setor de alimentos, com mais de 4 mil empregos.
Fonte: Atlas Socioeconômico do RS
A força das marcas locais
* Cotrisel: Arroz Sepé é o 1º entre o interior de Minas Gerais, Espírito Santo e interior do Rio de Janeiro; Tio Lautério é o 2º no Centro-Oeste
* Germani: Biscoitos são 4º na Região Sul do Brasil
* Neugebauer: Bibs é o 2º no Brasil em confeitos de chocolate; barras de chocolate são 5º no Brasil
* Lactalis Elege: Leite UHT é 3º na Grande Rio, 3º no Sul e 3º no Nordeste; iogurte de frutas é o 2º no Brasil; leite fermentado é 3º no Brasil; requeijão é 4º no Sul do Brasil
* Excelsior: Pizza é 5ª na Região Sul do Brasil
* Fruki: Água Mineral Da Pedra é 5ª no Brasil; Elev é 3º na Região Sul do País em energéticos
* Coca-Cola: Refrigerantes em 1º, 4º e 5º na Região Sul do Brasil
Fonte: Abras 2025
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