O cronograma era arrojado. Em três anos, a Rota Santa Maria, responsável pela duplicação da RSC-287, rodovia fundamental para a ligação entre o Centro do Estado, o Vale do Rio Pardo e a Região Metropolitana, pretendia ter a primeira fase do projeto, de 130 quilômetros, entregue. As obras iniciaram em maio do ano passado, justamente quando aconteceu a cheia de 2024.
Além de afetar diretamente o cronograma de obras, a enxurrada deixou um rastro de estragos ao longo da rodovia que, até hoje, dependem de um ajuste contratual entre a concessionária e o governo do Estado para serem solucionados. Enquanto isso não acontece, o diretor da Rota Santa Maria, Leandro Conterato, aponta redução de pelo menos 5% no fluxo da rodovia.
"Nós sentimos as perdas logísticas no dia a dia. As empresas da região manifestam preocupação e muitas vezes optam por vias alternativas para evitar os pontos críticos que permanecem com sinalização reforçada. Há uma pressão social e o nosso plano, assim que tivermos os projetos aprovados, é executarmos em seis meses os quatro trechos críticos que precisarão ser reconstruídos, já duplicados, mais altos e com nova estruturação. Se não houvesse as cheias do ano passado, hoje estaríamos com pelo menos cinco frentes de trabalho ao longo da rodovia", explica o diretor.
Ele se refere aos trechos de Mariante, em Venâncio Aires, e de Candelária, onde os rios Taquari e Pardo cobriram a rodovia, destruindo a estrutura. Desde então, foram criados desvios provisórios, que seguem sendo operando.
Há ainda a ponte sobre o Arroio Grande, em Santa Maria, onde o Exército instalou pontes provisórias, que seguem em operação, assim como na ponte sobre o Arroio Barriga, em Novo Cabrais.
Nos quatro trechos críticos, a concessionária elaborou novos projetos, para que a reconstrução incluísse a duplicação, com elevação da pista e novas estruturas de resiliência na base. Os projetos, apresentados ainda em abril ao governo, responsável pela concessão, preveem R$ 500 milhões nessas obras e, naturalmente, um acréscimo de pelo menos R$ 200 milhões no valor global da concessão, que prevê, em 30 anos, até R$ 3,8 bilhões em investimentos – em torno de R$ 2 bilhões até 2028, quando a Rota Santa Maria ainda pretende ter entregue 130 quilômetros de duplicação.
A dúvida está no custeio dos valores adicionais ao contrato de concessão. Há possibilidade de serem bancados com recursos do Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs), mas ainda não há sinal verde por parte do governo.
"São gargalos importantes, e temos concentrado esforços para garantir a reconstrução já duplicada. Em Candelária e Venâncio Aires, a ideia é construirmos a pista duplicada ao lado da já existente. Na ponte sobre o Arroio Grande, o plano é construirmos uma nova ponte e, ao ser liberada, recuperarmos a ponte original, garantindo a duplicação. As obras sobre o Arroio Barriga estavam previstas para o segundo ciclo da duplicação, mas anteciparemos, elevando a nova ponte ao longo de 2 quilômetros. São ações de resiliência para evitarmos novos danos", aponta Conterato.
Logo que liberadas, estas devem ser novas frentes de obras, aceleradas, em um prazo de seis meses, na RSC-287. Antes disso, a duplicação da rodovia foi iniciada em novembro do ano passado, com duas frentes que devem ser finalizadas nos próximos meses, com desembolso de R$ 105,3 milhões.
A estimativa é de que, até agosto, estejam duplicados 8 quilômetros em Tabaí. E em Santa Cruz do Sul, também com o plano de entrega até agosto, são outros 3 quilômetros, o que inclui dois viadutos com interseções.
Nos planos da concessionária ainda está a abertura de novas frentes de duplicação até o fim deste ano entre Santa Cruz do Sul, Venâncio Aires e Vera Cruz.
De acordo com o diretor, a perspectiva é garantir até o final de 2028 as duplicações de 130 quilômetros entre Tabaí e Novo Cabrais, além de trechos urbanos de Santa Maria e Paraíso do Sul.
Investimentos em rodovias na macrorregião central do RS
* RSC-287: caso a adaptação de projetos seja aceita pelo governo do Estado, obras de duplicação da rodovia que cruza o Vale do Rio Pardo e o Centro do Estado podem receber mais de R$ 600 milhões neste ano.
* BR-386: duplicação da rodovia, no primeiro trecho do Vale do Taquari, deve ser finalizada este ano, com até R$ 1 bilhão de investimentos no ano em três frentes de obras na rodovia.
* Bloco 2 de concessões: o bloco de rodovias a serem concedidas pelo governo do Estado inclui 3 estradas entre os vales do Taquari e Rio Pardo, e terá R$ 1,5 bilhão em aportes públicos.
* Recuperação de rodovias: a macrorregião recebeu R$ 663 milhões em obras de recuperação de pelo menos nove trechos das rodovias RSC-453, ERS-425, ERS-332, ERS-129, ERS-149, ERS-348, ERS-640.
Fonte: Governo do Estado, CCR Viasul, Rota Santa Maria